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Imunoterapia

Gilson Cláudio Barbosa de Miranda
Goiânia/GO

Imunoterapia filosófica é uma espécie de vacina terapêutica e consiste no acompanhamento que se faz de pessoas que não precisam de terapia e que decidem fazer um planejamento de EP para não desenvolverem a necessidade de se submeter a um processo terapêutico. É um trabalho filosófico clínico, de caráter preventivo que visa o desenvolvimento necessário para a manutenção do estado de equilíbrio da estrutura de pensamento. Isto resultará em obter qualidade de vida dentro de uma certa permanência.

Assim sendo, a imunoterapia coloca na pauta proposta da existência da pessoa o ¨bene vivire¨. Isto significa um resgate da arte de viver com satisfação, arealização do velho sonho de Epicuro que era a qualidade de vida. Entendemos que por meio de um acompanhamento clínico filosófico é possível instaurar um processo de planejamento pessoal que tem por fim construção de uma EP equilibrada vivencia. Disto resultaria um viver qualificado, no qual a pessoa terá a satisfação de ser o que é. Este pensamento vai de encontro a uma da máxima de Santo Tomás de Aquino, ¨seja cada vez mais aquilo que és.¨ Isto é em latim, quod est fias plenium.

O desenvolvimento da presente idéia consiste na aplicação dos procedimentos próprios da clínica filosófica concebida por Lúcio Packter. Este processo terá o seu curso normal em seções de clinica filosófica como as demais existentes até o presente momento. Isto me parece resgatar uma das funções do filósofo praticada pelos sofistas na antiga Grécia, a de consultor e assessor de pessoa na busca da arte de viver com consciência, alegria, crítica, êxito e sabedoria.

Hoje mais do que nunca as pessoas estão muito propícias a desenvolver a necessidade de acompanhamento terapêutico, e a nossa proposta visa fundamentar e estender a idéia de profilaxia aos pro9blemas de ordem terapêutica. Isto evita a dor, o desconforto de transtornos existenciais de todas as espécies e diversos incômodos advindo da experiência dos conteúdos com os quais se trabalha durante os processos terapêuticos.

A proposta visa uma espécie de vacina terapêutica. Isto equivale praticamente em criar uma especialidade dentro de filosofia clinica. É a especialidade da qualidade de vida. O filósofo clínico que se aplica este tipo de procedimento clínico pode ser denominado de biófilos, o amigo da vida. É alguém que se preocupa com a ampliação das oportunidades do ¨bene vivere,¨ na existência cotidiana do homem. Esta foi a missão filosófica a qual Epicuro dedicou seus esforços intelectuais ao longo de sua existência.

Historicamente, a filosofia mos permite apresentar Epicuro como primeiro biófilos. O pensador dos jardins na vivencia da experiência do caos da decadência grega se afasta do ambiente socialmente doentio e sem esperança que cobriu a existência humana no mundo urbano grego e o levou a dedicar-se ao desenvolvimento de um processo auto-sustentável de qualidade de vida baseado na amizade. Este seu comportamento filosófico nos leva a ver nele um autêntico biófilos.

Entretanto se por um lado ele acertou no comportamento por outro, ele precisa ser aperfeiçoado naquilo que diz respeito ao método. Este enriquecimento tornou-se possível a partir do conjunto de idéias apresentadas por Lúcio Packter, denominadas de filosofia clínica. A partir de Lúcio centenas de filósofos têm se dedicado aos princípios clínicos propostos por Lúcio.

Para fundamentar filosoficamente a imunoterapia primeiro se faz necessário que a sua demanda fique caracterizada. Isto terá de ser feito em dois tempos, no mínimo. Inicialmente por meio de casos de historicidade de EP de pessoas que fizeram o trajeto do equilíbrio para o desequilíbrio. Em seguida, buscar na literatura filosófica, elementos que nos permitam falar da imunoterapia não por mero modismo, mas por uma evidência constada pelo rigor metodológico do pensamento filosófico.

Autores que teorizaram em suas produções filosóficas conceitos como os de prazer, de belo, de inteligência, de consciência, de percepção, intuição dedução e indução, corpo, expressividade, sociabilidade e felicidade serão com certeza úteis para fundamentar e sistematizar teoricamente a idéia de imunoterapia. Autores como Epicuro, Sócrates, Platão, Aristóteles; Henri Bérgson, Edmund Hursserl e de Maurice Merleau-Ponty dentre outros, muito terão a contribuir com o enriquecimento prático da imunoterapia.

A relevância da presente proposta está baseada na tese popular de é mais fácil remediar que curar. Isto é, é mais fácil evitar que o homem desequilibre sua estrutura de pensamento do que recuperá-lo de seu desequilíbrio de EP. Por que esperar que as pessoas cheguem um estado de sofrimento para intervir se podemos antecipar e fazer a intervenção pelo prazer, pela satisfação e pela alegria, ou então com tranqüilidade que o equilíbrio nos oferece? Por que proteger a vida significa mais que parar a dor. Significa também impedir que a dor se instale ocupando o seu com atitudes construtivas que nos possibilite instaurar a solidificação e manutenção do equilíbrio possível da EP no desenrolar de sua historicidade.

Esta proposta é de suma importância, uma vez que ela recoloca o homem no esforço de canalizar seu pensamento e suas ações no sentido de recuperar a si mesmo como sujeito de seu viver. É a reconstrução da liberdade psíquica que foi silenciado pelo processo de massificação que afastou o homem do objeto sua vontade e o submeteu à ditadura da necessidade. Esta realidade tornou o homem um ser insatisfeito, uma razão inútil como sustentou Sartre ou ainda um ser para morte, inutilmente angustiado como afirma Heidegger, para não dizer de tantas outras definições que nos induz a concluir que a existência humana seja algo fadado ao fracasso.

Pela aplicação da filosofia clínica, pelos esforços do filosofo clinico e partilhante a existência humana pode se programar seu do próprio equilíbrio psíquico para se manter e ampliar a consciência da qualidade de vida e recuperar a felicidade pela reconstrução do eu por meio do simples existir cotidiano. Isto conecta e completa a tese de Martin Bubber sustentada em Eu e tu, na qual ele trabalha com a idéia de que a identidade da pessoa, que se apresenta na forma de um eu, um tu que se constrói na relações travadas no dia a dia de uma existência.

Estamos em paralelo com a teria do evolucionismo darwiniano, nossa tese propõe o desenvolvimento de um comportamento filosófico clínico que permita, de modo consciente desenvolver um programa de evolução existencial para uma certa malha intelectiva carente de um programa existencial e cuja demanda foi detectada em na historicidade de sua EP.

Deste modo a imunoterapia é a aplicação dos procedimentos da filosofia clinica que tem caráter profilático, pode e deve ser aplicada a pessoas que se desejam viabilizar as possibilidades de equilíbrio no exercício de sua prática existencial. A imunoterapia é um programa de qualidade vida. Sua necessidade está no fato de que historicamente pode-se comprovar que em momentos de crise generalizada, como a que se vive neste momento da história, o homem se sente na necessidade de desenvolver habilidades que favoreçam a qualidade existencial, em outras palavras a arte de viver.

Eticamente a imunoterapia é um comportamento filosófico clinico que se justifica dentro dos princípios aristotélicos da ética hedonista. E que vem acompanhada do princípio tomista ¨quod est fias plenium¨, isto é sejas cada vez mais aquilo que és.

Análise histórica e comparada da evolução da medicina e da terapia

Embora possa nos parecer ilógico, a medicina ao surgir no Egito tinha por fim muito mais conservar o corpo dos mortos do que curar os vivos. O motivo desta visão era religioso. Na crença dois antigos egípcios os mortos um dia retornariam como deuses e precisariam dos seus antigos corpos, que seriam tomados para viver a plenitude da segunda vinda. Este pensamento permaneceu por muitos séculos na antiguidade, até que na civilização grega, Hipócrates funda a medicina curativa. A proposta de pai da medicina euro-ocidental permaneceu intacta até meados da primeira metade do século XX da nossa era. Daí em diante começou-se a falar em profilaxia, isto é, a medicina preventiva.

No campo das diferentes terapias parece–nos que as três fases do processo da medicina tende a repetir. A necessidade cuidar da alma, em sentido terapêutico é antigo. Em todas as religiões antigas há inicialmente uma preocupação com o destino da vida após a morte. Neste sentido, as religiões chamaram para se a responsabilidade de preparar o homem para esta missão. Para cumprir esta tarefa as religiões deparam com os problemas da saúde mental, a saúde da alma. Para cumprir esta segunda função que vinha completar a primeira, os religiosos se aplicaram na prática dos aconselhamentos e exorcismos.

Entretanto, na Grécia antiga filósofos como Pitágoras, Filon de Alexandria Epicuro e outros buscaram racionalmente estabelecer princípios de uma terapia racional que permitisse libertar o homem dos males da alma (). Este procedimento destes pensadores gregos pode ser entendido como sendo a segunda fase dos processos terapêuticos de cura. Esta fase permanece inalterada até os dias de hoje.

Do mesmo modo que há cem anos atrás ninguém se preocupava em ir ao médico ou dentista para prevenir de doenças e hoje esta é uma rotina comum, também nós estamos propondo que, também no trabalho terapêutico, esta rotina a qual identificamos como sendo a terceira fase da medicina seja trabalhada. Portanto estamos propondo que a terceira fase da história das ciências da saúde se estenda ao processo terapêutico da filosofia clínica. Pois hoje ser saudável é mais que viver sem dor, é viver bem.

Quero deixar claro que este assunto que foi aqui esboçado não se esgota com esta simples exposição de idéias. O que se fez neste texto foi tão somente uma proposta de pesquisa que entendemos se apresenta com grande coesão teórica e que pode a partir de pesquisa vir se firmar por meio destas idéias e de outras que a estas podem ser ajuntadas ou ainda, de outras que poderão, com maior proveito para este projeto, substituir algumas das idéias aqui registradas.

Referências Bibliográficas.

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SARTRE, Jean Paul. Ser e nada. São Paulo : Nova cultural, s/d.

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