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Espiritografia a la Miró

Idalina Krause
Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS


Viver de espiar, espreitar ciclos de intensidades, o adoecimento que resiste à febre, o bater de queixos que se confunde com um riso louco. Vida por vezes famélica, alimentada insana pelos vestígios do dia, por traços letárgicos do que um corpo quer dizer.

Fazendo germinar do mais íntimo, brotos que arrastam dedos e mãos, riscos deslizantes que o espírito impõe numa constelação, derramando figuras na superfície disponível de agora, entre gélidas madrugadas.


Há um calor de inconformismo, um ar de liberdade, sonho, vida sem freios, como um cão latindo para a lua. Um impulso, uma força que faz inverter figuras, girar entre carnavais, uma réstia de filosofia, pensamentos, ação, entorpecimento, criação suspensa de qualquer controle.


Não há exatidão, mas um gerar impreciso dos cabeludos pincéis molhados, misturado numa vertigem de cores, gestação de uma obra fecundada, inominada até nascer. Signos que acontecem, pássaros, mulheres, asno, um auto-retrato, o que ri e chora. Vinga, transborda, contrai, transforma-se e pede mais para vir-a-ser arte.


Um espírito que transfigura o mundo com linhas, traços interpenetráveis de lonjuras e desespero do que percebe diante dos olhos. Danação entre duas guerras e uma força regente, nebulosas de gestos, do que deseja resistir, encharcado, aquarelas espontâneas surgem do fundo claro, onde tudo escorre. Cabeleira de seda branca, enorme cabeça, silhueta de fera cavalga uma lágrima em forma de alazão, espargindo orvalho, uma arquitetura de sonhos despejados em estranhas geometrias na noite sem luar.


O desacreditado observa seus velhos sapatos constelados por galáxias, tintas, pingos estelares do que saltou em cores de um absurdo infinito universo, onde calça seus pés. Suas patas e corpo deitado numa enseada, onde mãos tateiam uma vez mais a viscosa tinta. Mas levantam fazendo surgir pintalgada litografia de um espírito comediante, que embora sangre, traça, vivifica em telas, esculturas, amores e dores.

Inquieto compositor de experimentações variantes, o solitário que em sua quietude “anti-social” deixou seu berro para que assim ocorra uma nova aurora pulsante, um mosaico que clame El despertar Del dia e acorde o mundo.

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