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Reflexões sobre o início de tudo

Rosângela Rossi
Juiz de Fora/MG


Sempre olhei para o céu tentando compreender como tudo iniciou. Quando criança ficava horas e horas no meu quintal admirando as estrelas, com uma angústia intensa, questionando o infinito. Onde tudo começou?

Albert Einstein sempre foi um admirador do cosmo: “A alegria de contemplar e de compreender, eis a linguagem a que a natureza me incita”.

Ervin Laszio escreveu: “Se soubéssemos mais sobre as condições sob as quais nosso universo nasceu, talvez pudéssemos descobrir também porque suas constantes são tão precisamente sintonizadas com a evolução da vida”.

Curiosa que sempre fui sobre as coisas do cosmos e da vida me deparei com um livro instigante “Criação Imperfeita” de Marcelo Gleiser. Ele me fez pensar mais do que já penso sobre o início de tudo.

Para mim não houve criação. Tudo sempre foi e será pulsação, uma grande respiração. Só vastidão. Consciência solta no espaço. TAODEUSUNIVERSOINFINITO. Consciência em Ato. Mais que além do que tempo, espaço e matéria, finito e infinito, tudo e nada.

Criamos Deus por nos sentirmos assustados diante a vastidão do universo. Precisamos de um pai criador para apaziguar nossa solidão. Mas, como diz Gleiser: “Ridicularizar essa necessidade humana, como fazem os “Quatro Cavaleiros” e tantos outros, é demonstrar uma profunda ignorância (ou indiferença?) do que passa pelos corações e mentes de bilhões de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do mundo”. Temos o direito de tirar o Deus das pessoas como falou um homem para o autor: “Quer dizer que o senhor quer tirar até Deus da gente?”

Marcelo Gleiser deu uma explicação que sempre povoou meus pensamentos: “para mim, espiritualidade não está ligada a dimensão religiosa sobrenatural, oposta ao mundo material. Também não está ligada uma possível conexão espiritual com a “ mente de Deus” que os Unificadores buscam numa Teoria Final. O que inspira a minha espiritualidade é a ligação profunda que sinto com a Natureza, é uma celebração da vida”. Nossa! Que sincronia!

Unificadores foram Platão e Aristóteles. Disse Aristóteles: “Posto que todo móvel é movido necessariamente por algo (...) é necessário que haja um primeiro motor”. Platão afirmou: “Deus é o eterno geômetra da criação”. Porém, precisamos abrir nossas reflexões, para além da verdade, beleza e verdade e nos permitir pensar na assimetria e desequilíbrio como responsável pela transformação contínua como nos convidou Heráclito.

Gleiser nos convida em seu excelente livro a filosofar sobre uma nova estética, baseada na imperfeição: “é o imperfeito e não o perfeito, que deve ser celebrado. È hora da ciência mudar, deixando para trás a velha estética do perfeito que acredita que a perfeição é bela e que a “beleza é verdade”.

O que me encantou no livro de Gleiser é sua reflexão: “ a verdade é que estamos aqui, refletindo sobre a razão de estarmos aqui. E isso nos torna muito especiais”. Ele continua com talento e delicadeza de um pensador: “Somos preciosos por sermos raros. Nossa solidão cósmica não deveria incitar o desespero. Pelo contrário, devemos incitar o desejo de agirmos, e o quanto antes, para proteger o que temos. A terra continuará sem nós. Mas nós não continuaremos sem a terra.”

Quem, como nós, gosta de pensar sobre o início de tudo, pegue o livro “Criação Imperfeita”, pois ele é um grande pretexto para qualificar não só nosso pensamento, mas sentirmos instigados a ação determinada no agora.

Nossa angústia existencial não diminuirá, mas com certeza procuraremos aqui no agora uma forma mais efetiva de preservar o planeta que nos acolhe e nos dá a vida tão especial de sermos humanos demasiadamente humanos.

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