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Tempo para quem fica

Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Teresópolis-RJ

Martin Heidegger, filósofo alemão, desenvolveu dentre várias questões a angústia como condição para existência autêntica. Segundo ele, em dado momento da vida, o Dasein, o homem, toma uma consciência íntima de sua finitude. A essa consciência o autor chama de angústia.

Essa situação faz com que o homem suspenda toda sua ocupação no tempo, na vida. A partir daí, ele reconhece que dentre todas as possibilidades, a mais certa é o fim da existência.

Longe de fadar o Dasein à depressão ou coisas deste tipo, a angústia abre às possibilidades, tirando o sujeito da vivência condicionada pela ocupação cotidiana. A vida passa a ser um instante único e repleto de possibilidades a serem optadas, vivenciadas. Logo, a angústia do reconhecimento da própria finitude abre o sujeito ao presente único e possível.

No entanto, além da experiência pessoal da tomada de consciência da limitação da existência, há outro modo de vivenciar a questão da morte e do presente constante. Isso acontece, por exemplo, com a experiência da morte do outro, sobretudo quando este outro é muito próximo.

Essa experiência, na concepção heideggeriana não abre o Dasein para a autenticidade. Mas, na busca da Filosofia Clínica por compreender a pessoa em sua singularidade, é imprescindível uma compreensão desse fenômeno.

A morte é uma realidade tão comum quanto comer, para o ser humano. Às vezes não é tão aceito, o que não faz com que isso se torne incomum ou não natural para a realidade humana. Em alguns casos a morte do outro se torna uma perda tão difícil de superar, que a lembrança da pessoa se torna presente mesmo após anos passados do acontecido.

A falta do outro se torna de tal modo inaceitável, que quem perde vive como se a pessoa fosse um ausente sempre presente, e as lembranças atualizam a existência da pessoa em cada momento de quem perdeu.

As conversas, as atividades, os passeios, os momentos de lazer... tudo trás o outro para a partilha da alegria ou dor vivenciada no agora. O tempo da pessoa passa, o acontecimento do falecimento se dilui ao longo dos anos, mas sempre é retomada a presença da pessoa no instante em que se vive.

Muitas coisas são esquecidas ao longo dos anos. Momentos diversos vão sendo deixados para as fotos ou simplesmente, desaparecem. E diante de tudo isso a ausência se faz presença na lembrança que se entrelaça com a vivência cotidiana.

Esse é um aspecto reconhecido como a categoria tempo, que é apresentado pelo partilhante ao longo de sua partilha. O filósofo clínico, a partir de procedimentos que lhe são próprios, os reconhece para que o desenvolver da clínica obtenha o melhor êxito possível.

O tempo objetivo conta que a pessoa está a anos lembrando-se de um fato ou de um ente passado. O tempo subjetivo conta que o presente é vivenciado sempre com a máxima plenitude, sem deixar ninguém de fora, mesmo que isso se faça em lembranças de fatos tristes ou agradáveis.

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