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Interconexões e universos particulares

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS


Cada pessoa é um universo em particular, com seu conjunto de qualidades, defeitos, talentos, manias, perspectivas, sonhos. Quando conhecemos alguém, temos em nossa frente o ‘produto acabado’ de suas escolhas do passado, e que portanto podem torná-la, em nossa vida, de fato um ‘presente’ ou um grande transtorno, até mesmo algo indiferente ou então apropriado somente para momentos muito específicos.

Algumas pessoas parecem viver no futuro. Estão o tempo todo planejando, organizando novas ações, investimentos, atividades, geralmente se resguardando para uma vida melhor lá na frente. Outras vivem intensamente o presente, o aqui e agora, porque não sabem como será o amanhã e portanto o que importa é aproveitar enquanto há tempo. Outras pessoas, ainda, vivem no passado. Revivem com frequencia, em suas lembranças, fatos felizes de outra fase da vida. Às vezes, nem tão felizes. O fato é que os anos que passaram ainda vivem dentro delas, dando um tom específico para os dias que correm.

Nada disso é certo ou errado. É apenas singular. Tem sua tonalidade, seu cheiro, sua textura próprias. Viver no passado, no presente ou no futuro é uma escolha pessoal, que pode levar o indivíduo a viver melhor ou pior, e isso só faz sentido a partir de sua ótica pessoal. Temos a tendência de achar que o que é bom pra nós o é também para os demais, e assim vamos produzindo o caos e os pequenos infernos particulares em nossas vidas – porque as outras pessoas também acham que o que é bom pra elas é também para nós, tentando, na medida do possível, nos influenciar e ‘chamar à vida’.

A boa notícia é que o ‘produto acabado’ que nos tornamos, a partir da história que escrevemos pelas nossas escolhas, não é tão acabado assim. Estamos em constante mudança, a exemplo das células do corpo, que a cada três meses renovam integralmente nosso organismo. Isso faz, portanto, que a mudança seja algo muito natural, mesmo que o movimento seja de retorno ao passado.

Importa, neste contexto, que vamos construindo nossa trajetória, que até o momento presente já está escrita e que guarda, daqui pra frente, um campo imenso de possibilidades. O caminho que trilhamos até agora, muito mais do que uma visão pejorativa de passado, é nossa história, que nos dá pistas preciosíssimas de como podemos seguir rumo ao futuro. O ditado de que para saber do que uma pessoa é capaz no futuro basta olhar para o passado é verdadeiro, mas não único, uma vez que podemos sempre fazer diferente.

Também nós somos um universo particular, com nosso conjunto de qualidades, defeitos, talentos, manias, perspectivas, sonhos. E também nós, quando conhecemos alguém, somos, pra este indivíduo, o ‘produto acabado’ de nossas escolhas, que pode nos tornar um presente, ou um transtorno, ou algo indiferente ou feliz em suas vidas.

Clichê, mas verdadeiro: ninguém é uma ilha.

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