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O discurso do rei

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta e Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG


"No trabalho psicoterápico, o segredo do polichinelo é que, por mais que suspendamos diplomas em nossas salas de espera, somos todos leigos e aventureiros. Não sei se existem cursos ou estágios que ensinem a ouvir o que Longue ouve e entende do desejo escondido do duque de York". Escreveu Contardo Calligaris.

O filme "O discurso do Rei" é um verdadeiro tratado terapêutico, que me fez pensar muito sobre o ser terapeuta no exercício de escutar e fazer refletir no encontro com o outro.

Mais que técnica o encontro terapêutico se faz no compartilhar amoroso. De um lado chega aquele que se propõe a transformação e do outro um coração aberto em compaixão disposto a caminhar ao lado.

O terapeuta que pensa tudo saber está com ego inflado na ilusão de um poder saber que na realidade é uma máscara para esconder sua fragilidade e insegurança.

O terapeuta vai aprendendo com o Outro, com o que o ser do Outro vai revelando a cada encontro. Esta é a beleza do compartilhar. A escuta livre, sem agendamentos e prejuízos, por parte do terapeuta é o grande trunfo para o sucesso do encontro.

Os submodos, técnicas utilizadas depois que se conhece o partilhante são instrumentos singulares que irão auxiliar a jornada de transformação e cura. No filme fica bem claro isto, quando Longue utiliza da Bioenergia, exercícios de percepcionar e desbloqueio das couraças, para o Rei se soltar.

O mais importante de tudo foi a relação de amizade e amor que se estabeleceu entre os dois, que durou uma vida toda.

O distanciamento frio e burro que muitas teorias pregam, desumanizam a relação terapêutica. Lembro do mestre e amado Gaiarsa, que nos deixou no final do ano passado, ele dizia:- Quem não se envolve não transforma. E me vem o desenho de um professor querido de Filosofia Clínica que nos recebia com braços abertos e se fez nosso amigo eterno.

Mais que técnica o trabalho do ser terapeuta é um trabalho de amor e entrega.
Vale a pena assistir o filme e aprender a se entregar, tanto como buscador como terapeuta.

Este filme é um tratado de Filosofia Clínica.
Assisti, recomendo e assistirei muitas vezes este belo trabalho do diretor Tom Hopper.

Termino com o texto final do artigo de Calligaris:
"Os piores se identificam com sua máscara. Acreditar nas máscaras que vestimos é delírio que nos torna perigosos. Não há diferença entre o rei que acreditasse ser rei, o terapeuta que acreditasse ser terapeuta e o anjo exterminador que saísse atirando e matando,perfeitamente convencido de ser uma figura do Apocalipse. Os três teriam isto em comum: acreditariam ser a máscara que eles vestem. Enfim, que Deus nos guarde de todos os que não enxergam sua própria nudez".

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