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Escrever pra quê? Cantar pra quê? Viver pra quê?

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS


A paixão pela música latino-americana me acompanha já faz algum tempo e uma das vozes que mais aprecio é da argentina Mercedes Sosa.

Nas últimas semanas, tenho me embriagado ao som de “Solo le Pido a Dios”, que me arrepia toda vez que ouço o verso em que pede a Deus para que a morte não a encontre vazia e só, sem ter realizado o suficiente.

É canção para visionários, sonhadores e idealistas, que se soma uma capa dos discos da Mercedes em que ela afirma: “Io no canto por cantar”, sugerindo a existência de um propósito maior em seu trabalho.

Arte engajada é o nome que se dá a este fenômeno e está presente na música, na pintura e, também, na literatura. Existem os artistas que querem mostrar seu trabalho, extravasar e tocar emoções, manifestar seu eu interior, deixar sua veia artística livre e solta, sem classificações, sem amarras, sem causa que não a própria arte, em si.

Existem outros que querem mais. São aqueles que encontram na arte um canal para gerar eco, produzir um efeito coletivo, tocando no íntimo das pessoas e em suas consciências, impelindo à ação para mudar o mundo, nem que seja pela contestação apenas.

Particularmente, acredito que toda forma de arte vale a pena, porque também ela é uma esteira através da qual o ser humano pode conhecer melhor a si mesmo e ao universo que o circunda. Mas vou contar um segredo: aprecio imensamente os artistas que imprimem em seu trabalho um toque idealista, a partir de um propósito firme, nem que seja de tornar mais poético o mundo de seus leitores.

Essa proposta vem de encontro com outra frase que li durante a semana. Ela dizia que o verdadeiro filósofo não fica se perguntando qual o sentido da vida, e sim pergunta o que exatamente fazer para dar sentido à vida.

Escrever pra quê? Cantar pra quê? Viver pra quê?

Com certeza não temos todas as respostas, e talvez nem mesmo as melhores respostas. Mas com certeza já temos as melhores perguntas.

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