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Sexualidade, uma questão de consciência

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta e Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG


A vida pulsa por todos os poros nos convidando ao encontro. Somos seres pulsantes desejosos do compartilhar corpo e alma. Para os filósofos pré-socráticos o corpo é alma, para os platônicos e cartesianos o corpo é separado da alma.

O foco da sexualidade apenas no corpo e na realização do desejo leva a tornar o corpo e o outro como objeto de uso e de prazer momentâneo, muitas vezes sem vínculo, respeito e pior de tudo, um desprazer no final, um vazio existencial e uma busca compulsiva e ilusória de realização.

O corpo almado, pleno em sua inteireza, vive a sexualidade como uma dança, uma poesia, uma celebração, onde o próprio corpo se entrega, sem medo e sem repressão. O outro é respeitado e cuidado com delicadeza e ternura.

Sexualidade não se resume ao ato genital, é muito mais que isto, é um movimento onde corpo, alma e espírito vivem a realização plena de um encontro.

A sexualidade começa com a liberação das couraças musculares. Um corpo que flui, que dança a vida com alegria e gratidão sente o prazer por todos os poros. Um corpo encouraçado e reprimido finge o orgasmo, ou apenas ejacula sem se entregar ao gozo pleno.

O ser livre, sente o nascer do sol, um copo de água, uma obra de arte ou encontro com o outro com tesão , entusiasmo e alegria. A sexualidade plena não precisa do álcool, da droga, da pornografia, pois prefere o prazer autêntico ao invés de prazer de plástico.

Hoje se fala abertamente de sexo, mas infelizmente, vive-se muito mal a sexualidade. Prioriza-se a quantidade ao invés da qualidade, a performance a profundidade, a aparência ao essencial, o corpo imagem ao ser do compartilhar verdadeiro e pleno.

A carência inverte aquilo que realmente se deseja e muitos se deixam ser objetos para sentirem-se amados e fugir da solidão. Estamos na era do vazio, na era da decepção, onde os valores se prostituíram e o consumismo sobrepõem a qualidade de um encontro onde a sexualidade é celebração da vida.

Não existe receita pronta para se ter orgasmo ou viver um sexo pleno. O que urge são pessoas mais conscientes, que vivem intensamente um encontro, na escuta, no toque presença, no carinho terno, na entrega intensa, no respeito a singularidade e principalmente sem ansiedade de ter que se mostrar algo que não se é. Sexualidade está para lá da idade e do corpo perfeito.

Sexualidade é vida acontecendo para quem é amor. Quem é amor, ama. Quem ama goza. Quem goza constroi um mundo eticamente sustentável.

Sexualidade, enfim é corpoalmado, onde sexo e espírito comungam Deus. Neste momento os sinos tocam, a morte se faz renascimento, a alegria surge depois da tristeza e a vontade determinada emerge trazendo ação e criação.

O ser da sexualidade plena é, pois, ativo, criativo, potente, livre, saudável e amigo. É possível a todo aquele que se aventurar a transformar a cada dia, com consciência e amor.

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