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Mostrando postagens de maio, 2011
Drogas Lúcio Packter Filósofo Clínico As melhores propagandas a favor das drogas talvez venham das pessoas que as atacam.Reprimir, tornar ilegal, desacreditar, exibir efeitos pejorativos, oferecer como contrapartida nossos preceitos sociais, isso é como combater o diabo mostrando o que ele tem de melhor. E, mais ou menos assim, surgem textos inspirados como On the Road, de Jack Kerouac. Uma das evidências que estatísticas do Ministério da Saúde reúnem aponta que muitas pessoas estão se entupindo com cocaína, chocolate, anestésicos, soníferos, perfumes, tinturas, bebidas e provavelmente o fazem, entre outras coisas, porque as drogas podem ser socialmente necessárias, como socialmente necessária pode ser a mania persecutória contra elas; esta razoável contradição torna as drogas muitas vezes o fascínio e o medicamento, sua prescrição indicada. Lembro que quando li El Horla, de Guy de Maupassant, pensei no quanto as drogas amenizaram suas terríveis vivências e se em tal caso não
Mas o que é a Filosofia Clínica? Gustavo Bertoche Filósofo Clínico Rio de Janeiro-RJ Quando um terapeuta se apresenta como filósofo clínico, muitas vezes ouve a pergunta que dá título a este texto. Essa pergunta é de se esperar, pois a Filosofia Clínica é uma abordagem relativamente nova – embora seja também, de certo ponto de vista, bastante antiga. As idéias fundamentais da Filosofia Clínica foram concebidas por Lúcio Packter, médico gaúcho, a partir dos anos 80. A Filosofia Clínica ganhou sua forma próxima à atual no início dos anos 90, quando um círculo de filósofos – alunos e professores – reuniu-se em torno de Lúcio com o objetivo de desenvolver a metodologia dessa nova abordagem terapêutica. A Filosofia Clínica tem como ponto de partida a tradição de 2.500 anos da filosofia. Uma das vertentes mais importantes da filosofia ocidental constitui-se como a tentativa de responder às perguntas: como devo agir?, o que é a felicidade?, qual o sentido da vida?. Essa vertente,
Fragmentos filosóficos delirantes LI* "A vida começa todos os dias. Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento. Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar. Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. Ninguém é o que parece, nem Deus." *Érico Veríssimo
Fragmentos filosóficos delirantes L* "Sou o que sabe não ser menos vão Que o vão observador que frente ao mudo Vidro do espelho segue o mais agudo Reflexo ou o corpo do irmão. Sou, tácitos amigos, o que sabe Que a única vingança ou o perdão É o esquecimento. Um deus quis dar então Ao ódio humano essa curiosa chave. Sou o que, apesar de tão ilustres modos De errar, não decifrou o labirinto Singular e plural, árduo e distinto, Do tempo, que é de um só e é de todos. Sou o que é ninguém, o que não foi a espada Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada." "Não sei qual é a face que me mira quando miro essa face que há no espelho; e desconheço no reflexo o velho que o escruta, com silente e exausta ira. Lento na sombra, com a mão exploro meus traços invisíveis. Um lampejo me alcança. O seu cabelo, que entrevejo, é todo cinza ou é ainda de ouro. Repito que perdi unicamente a superfície vã das simples coisas. Meu consolo é de Milton e é valente, po
Nosso, sempre nós Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora-MG Sair do "eu" dos "meus" e mergulhar nos "nós" dos "nossos" pode parecer pura brincadeira linguística, porém é muito mais que uma reflexão, é ação efetiva de gente que sabe amar generosamente. O ego, o eu do egoísmo, sempre espera ser amado. Deseja sempre poder controlar, dominar, explorar e tirar vantagens. A alma, espaço do nós, nada espera, ama por amar. Compartilha. Respeita as singularidades. Escuta. Doa-se livremente. Nada me pertence porque tudo é do nosso mundo. Somos pertencentes nesta jornada infinita de ser e não ser tudo e nada. Quando consigo sair do "meu" e entrar no "nosso", há o encontro sublime nesta existência tal qual se apresenta. Dissolvo e me enrosco na ternura, como bicho amante, anjo divino. Acolho e sou acolhida. Êta vida! E tudo fica mais simples... Caminhamos de mãos entrelaçadas, coração aberto na exper
Vontade dirigida Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre-RS Outro dia estava em uma roda de bar, com amigos. O fato de optar sistematicamente por água mineral enquanto todos consumiam cerveja e chopp levou à discussão sobre o hábito de beber. Eu não tomo cerveja e chopp porque ficam uma semana fermentando no meu estômago e não consumo as bebidas destiladas porque me dão sono. Fora esses argumentos, confesso que o único estado de consciência alterado que me agrada é o da meditação – o que, evidentemente, não me torna aquelas quase abstêmias radicais que só faltam fazer o sinal da cruz quando passam na frente de um bar. Em determinado momento da conversa, perguntei a uma amiga se ela conseguiria ficar sem beber e sem fumar durante os nove meses de gestação de um bebezinho, desejo que é ponto pacífico nela. Não houve titubeio. A resposta foi imediata: lógico! Acredito que esse recorte dos acontecimentos da noite permite várias interpretações, mas vou me ater a um: o pode
A versão dos rascunhos* “(...) As relações internas que o tornam belo para quem o vê precisam ser descobertas e, de certa forma, atribuídas pelo admirador.” Jacob Bronowski Um diálogo eficaz com a expressividade das transições é incapaz de se sustentar sem a participação da esteticidade. Os contornos dessa aventura pioneira se oferecem numa lingua estranha. Suas palavras são outras palavras e indicam origens diversas numa arquitetura de aspecto caótico. Ao tentar acessar a conversação entre a subjetividade e seu entorno (agora contraditório), é possível descobrir-se um único exemplar da espécie, um projeto irrepetível e desordenado ao olhar das conferências exorbitantes ao seu redor. Para se iniciar um processo de decifração desses discursos fora de propósito é importante qualificar a interseção entre o olhar e a escuta. Assim esse movimento interior repleto de imagens pode ser visitado com alguma eficácia, revelando circunstâncias inéditas e dons extraordinários. É comum e
APESAR DO VEXAME, AINDA TE AMO Ildo Meyer Médico e Filósofo Clínico Porto Alegre-RS Sei que a maioria dos meus leitores são mulheres. Sei também que mulheres não são tão fanáticas por futebol quanto homens. Apesar disto, vou falar de futebol, porque minha intenção é ajudá-las a confortar seus amados. Quando chegar aquele dia em que seu amor estiver desconsolado porque seu time deu o maior vexame, mostre este artigo para ele. Quem sabe ajuda? Dizem que futebol é uma paixão nacional. Tenho minhas dúvidas. Pode ser uma paixão para muitos, mas certamente não é unanimidade. Alguns homens têm paixão pelo traseiro feminino, outros pelo assento de seus carros... Além disso, se levarmos a sério, a definição de paixão não tem nada a ver com futebol. Paixão, do latim “patior”, significa sofrer ou suportar uma situação dificil. Até aqui ainda está razoável, afinal de contas tem tanto “timinho” ruim fazendo maldade com seus torcedores. A continuação é quem esclarece: O acometido de pai
Fragmentos filosóficos delirantes XLIX* "Só, incessante, um som de flauta chora, viúva, grácil, na escuridão tranqüila, — Perdida voz que de entre as mais se exila, — Festões de som dissimulando a hora Na orgia, ao longe, que em clarões scintila E os lábios, branca, do carmim desflora... Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranqüila. E a orchestra? E os beijos? Tudo a noite, fora, Cauta, detém. Só modulada trila A flauta flébil... quem há-de remil-a? Quem sabe a dor que sem razão deplora? Só, incessante, um som de flauta chora..." "Quando a vejo, de tarde, na alameda, Arrastando com ar de antiga fada, Pela rama da murta despontada, A saia transparente de alva seda, E medito no gozo que promete A sua boca fresca, pequenina, E o seio mergulhado em renda fina, Sob a curva ligeira do corpete; Pela mente me passa em nuvem densa Um tropel infinito de desejos: Quero, às vezes, sorvê-la, em grandes beijos, Da
Fragmentos filosóficos delirantes XLVIII* "Ó Pai Não deixes que façam de mim O que da pedra tu fizestes E que a fria luz da razão Não cale o azul da aura que me vestes Dá-me leveza nas mãos Faze de mim um nobre domador Laçando acordes e versos Dispersos no tempo Pro templo do amor Que se eu tiver que ficar nu Hei de envolver-me em pura poesia E dela farei minha casa, minha asa Loucura de cada dia Dá-me o silêncio da noite Pra ouvir o sapo namorar a lua Dá-me direito ao açoite Ao ócio, ao cio À vadiagem pela rua Deixa-me perder a hora Pra ter tempo de encontrar a rima Ver o mundo de dentro pra fora E a beleza que aflora de baixo pra cima Ó meu Pai, dá-me o direito De dizer coisas sem sentido De não ter que ser perfeito Pretérito, sujeito, artigo definido De me apaixonar todo dia De ser mais jovem que meu filho E ir aprendendo com ele A magia de nunca perder o brilho Virar os dados do destino De me contradizer, de não ter meta Me reinventar, ser m
Navegação Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre-RS Nau conduzida em sonhos Mares, marés, maresias Sal nos lábios Palpitações verde beira calcária casca ovo do mar Circe espreita círculo mitológico Sexta-feira corre olhar antropofágico recomeço ou danação
Algumas considerações sobre as terapias Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica A revista SUPERINTERESSANTE, edição 254, trouxe como matéria de capa: Terapia Funciona? Dei um longo depoimento, depois troquei alguns e-mails com a jornalista responsável pela matéria, onde aparece uma citação minha e algumas linhas esperançosas sobre o meu trabalho. Segundo a jornalista Denize Guedes, que assina a matéria, as neuroimagens de pesquisas, como a realizada na Universidade de Leeds, Inglaterra, apontam para um parecer: talvez “a psicoterapia não funcione pelo motivo que os terapeutas apontam”. O que faria com que a psicoterapia funcionasse na opinião de muitos especialistas é o efeito placebo, a convicção da pessoa de estar sendo auxiliada, da sugestão, da vontade da pessoa em sair do conflito. Existe algum endereçamento na Filosofia Clínica sobre isso? Primeiro, algumas vezes a psicoterapia funciona pelos motivos nomeados pelos terapeutas. Exemplo: às vezes impulsos reprimi
Filosofia Clínica e valores: uma reflexão a respeito do que nos importa na vida Bruno Packter Filósofo Clínico Florianópolis-SC Desde a Antiguidade a palavra valor foi usada para indicar a utilidade ou o preço dos bens materiais e a dignidade ou o mérito das pessoas. Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, por exemplo, “… o valor ou a importância de um homem é, como para qualquer outro objeto, seu preço, isto é, o que se daria para dispor de seu poder.” (Leviatã) As concepções de valores, que provavelmente encontraremos na nossa vida diária, tratam do ter poder, ter propriedades, ter beleza, ser jovem, ter um papel existencial sublime e outras mais. Mas, na clínica filosófica, axiologia tem outra concepção. Na Filosofia Clínica, denominamos o que é axiologia para a pessoa, a partir de algum dado que ela relacione a um valor, como: o trabalho, a vida, por exemplo. A axiologia em filosofia clínica se refere ao valor subjetivo que os objetos ou as coisas têm para a pessoa.
DEZ COISAS A SEREM APRENDIDAS COM O JAPÃO Rosangela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora-MG Apesar das tragédias que vieram passando, o Japão é exemplo que deve ser seguido. 1 – A CALMA Nenhuma imagem de gente se lamentando, gritando e reclamando que “havia perdido tudo”. A tristeza por si só já bastava. 2 – A DIGNIDADE Filas disciplinadas para água e comida. Nenhuma palavra dura e nenhum gesto de desagravo. 3 – A HABILIDADE Arquitetos fantásticos, por exemplo. Os prédios balançaram, mas não caíram. 4 – A SOLIDARIEDADE As pessoas compravam somente o que realmente necessitavam no momento. Assim todos poderiam comprar alguma coisa. 5 – A ORDEM Nenhum saque a lojas. Sem buzinaço e tráfego pesado nas estradas. Apenas compreensão. 6 – O SACRIFÍCIO Cinquenta trabalhadores ficaram para bombear água do mar para os reatores da usina de Fukushima. Como poderão ser recompensados? 7 – A TERNURA Os restaurantes cortaram pela metade seus preços. Caixas e
Fragmentos filosoficos delirantes XLVII* "Encontrei um verso fraturado, caído na esquina da rua do lado, Tinha se perdido de um coração saudoso que passava por ali, desiludido. Coloquei-o de pé, emendei seus pedaços, refiz suas linhas, retoquei seus traços. Afaguei suas dores como se fossem minhas. Agora, novamente estruturado, espero que ele não olhe para trás e não misture sonhos com amargas falências do passado; que saiba enfeitar a estrela lá na frente com fartos laços de rima colorida. (...) pois é para o futuro que caminham todos os passos apressados desta vida. Acima de tudo, que se mantenha a fé." "(...)Muito pior do que passar por isso é sonegar emoção, evitar o risco e o compromisso, esconder-se atrás das grades da razão. Quem hoje por amor está sofrendo, Só por amar, já merece estar vivendo." *Flora Figueiredo
Fragmentos filosoficos delirantes XLVI* "Nada saber de Geografia ignorando, assim, a semelhança entre a ilha perdida no oceano e o sozinho em meio à multidão." "Não ter qualquer noção de Geometria, de ângulos, triângulos, polígonos; não entender de círculos e retas, porque só é feliz quem nada sabe, nem percebe que o Sonho e a Realidade fazem jornada em ruas paralelas." "A Vida é uma vitrina de tecidos. A gente, por instantes, fica de olhos perdidos na beleza das telas deslumbrantes. Depois, entra na loja e vai comprar. Caixeirinha gentil, a Ilusão vem vender ao balcão e não se cansa de mostrar, não se cansa de exibir delicados, rendilhados, leves panos de Sonho e de Esperança. As mãos tocam de leve na leveza das telas. Não vá o gesto, por mais breve, esgarçar uma delas! Todas tão lindas! Mas a que fascina não está ali na grande confusão das peças espalhadas no balcão. E a gente diz, num ar feliz: Levo daquela rósea, muit
O que podia ter sido Sandra Veroneze Filosofa Clinica Porto Alegre-RS Sempre considerei a nostalgia um tanto charmosa e são muitos os momentos em que a observo e inclusive a ela me entrego. Talvez seja um pouco influência desse nosso clima sulino, que em boa parte do ano empresta à paisagem cerração, neblina, chuva fina ou torrencial e frio, às vezes muito frio. Tudo isso convida às comidas e bebidas quentes, ao recolhimento e as visitas ao subjetivo... Pingos escorrendo pela janela e o vapor da água saindo da cuia de chimarrão ou do café quente parecem funcionar como senhas ou portais ao universo particular de cada um, onde lembranças e sonhos encontram terreno fértil. De alguma forma, é um convite ao exercício da imaginação, que não raras vezes resulta em produção artística: literatura, pintura, escultura, às vezes triste, às vezes feliz... Existe uma espécie de nostalogia, porém, que me incomoda muito. É a nostalgia do que ‘podia ter sido’. São muito comuns frases como
Clímax* “Clímax, orgasmo... instante de plenitude, De singularidade sensitiva, Entrega fugaz, Próximo do fim. Lugar onde... Extravasamos no corpo o que a alma não dá conta, Movemos instintos sem noção e sem piedade, Transpomos afetos, Inventamos pretextos para penetrar dores e fluidos, Capturamos sentidos a explodir num momento único e quase eterno, E depois... aquietamos em silêncio, Para apenas sentir a calma da saciedade”. *Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ
O Continente Obscuro Jussara Hadadd Terapeuta Sexual e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG O apetite sexual é nato em cada um de nós, fazendo parte da característica de nossa personalidade, podendo ser desenvolvido ou reprimido dependendo do ambiente de criação. Na relação sexual, chegar ao orgasmo ainda é muito difícil para boa parte das mulheres. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo mostra que 18,2% das brasileiras são diagnosticadas anorgásmicas (ausência de orgasmo) e 5,2% tem algum tipo de inibição sexual, que aponta para problemas de excitação durante as relações sexuais Por que chegar ao clímax é assim tão difícil? O Psicológico é considerado o fator preponderante. A grande maioria dos diagnósticos de distúrbios sexuais é de natureza psicológica, social ou cultural. Somente 13% das pacientes têm problemas de natureza orgânica, como alterações hormonais ou distúrbios originados por alguma doença. O orgasmo é uma experiência ao mesmo tempo psicológica e orgânica
Isso é assim para o outro! Rosemiro A. Sefstrom Filósofo Clínico Criciúma/SC Nos textos que escrevi até o momento, a base do discurso é perceber que o outro é um ser diferente, entender que quando estou em relação com outra pessoa preciso me despir das minhas verdades e assumir que o outro só pode ser entendido a partir dele mesmo. Mas, segundo algumas pessoas, isso não é assim tão fácil no dia-a-dia, uma vez que não temos tempo para conhecer cada pessoa. Até certo ponto é verdade, o cotidiano de contatos superficiais deixa de fora muito do que a pessoa é. No entanto, se estivermos falando de nossa família, quantas mães entendem que seu filho pensa, sente, intui, etc., diferente dela? Quantos pais entendem que o filho, mesmo tendo a mesma educação dos irmãos pensa diferente? Não serão poucos os pais que dizem saber que é assim mesmo e que precisamos compartilhar das ideias com os filhos para sabermos como eles vêem o mundo. Mas esquecem que quando chegarem ao mundo do filho,
Domingo Olympia Filósofa Clínica São João del Rei/MG Acordamos cedinho No embornal broa de fubá Cantil com café Canequinha de latinha Rumo à cidade vamos Temos o sol como companhia O sino chama os fiéis A missa vai começar Fiéis confessam lá na sacristia O Padre celebra a missa Recebemos o corpo de Cristo Indo para casa Sentamos debaixo da árvore frondosa Mamãe nos dá Naco de broa com café Semana boa!
Fragmentos filosóficos delirantes XLV* "As Águias imortais da Fantasia Deram-te as asas e a serenidade Para galgar, subir à Imensidade Onde o clarão de tantos sóis radia." "Lá, nas celestes regiões distantes, No fundo melancólico da Esfera, Nos caminhos da eterna Primavera Do amor, eis as estrelas palpitantes. Quantos mistérios andarão errantes, Quantas almas em busca de Quimera, Lá, das estrelas nessa paz austera Soluçarão, nos altos céus radiantes. Finas flores de pérolas e prata, Das estrelas serenas se desata Toda a caudal das ilusões insanas. Quem sabe, pelos tempos esquecidos, Se as estrelas não são os ais perdidos Das primitivas legiões humanas?!" * Cruz e Souza
Fragmentos filosóficos delirantes XLIV* "A missão de um cantador é de andar pelas estradas, levando a sua função nas rimas improvisadas. um menestrel dos abismos, das regiões assombradas, contra a forca negativa que arrasta a quem quer cair. um rei começa a rugir contra essa besta nociva, que habita em carne viva dentro de nós com furor, mas existe um defensor para defender o crente. some o leão com a semente e tens o destruidor prá falar de um cantador não bastam só teorias, nem medos nem fantasias exprimem o seu valor. ele não é um doutor, e nem mesmo tem posição. mas em qualquer reunião, quando canta o seu repente, o povo fica contente com a sua disposição. diz ele tantas histórias, que prende com seu carisma um povo que nunca cisma com sua lutas inglórias, e tendo essas memórias, porteiras por desvendar, um pouco vai concentrar nas celas do seu juízo, e o fogo do improviso começa logo a queimar." "Não há muito o que falar a r
A viagem e as conexões - A bagagem Sou eu! Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG Onde coloquei minhas loucuras? Se é que um dia as tive. Nunca gostei de ser normal, estar na moda e ser cópia xerox. E este mundo seduz o tempo a sermos rebanho, no seguir a maioria. Ai... Olha o trem... Sempre tentei fugir da perfeiçāo e muitas vezes me vejo perseguindo a trilha da normopatia. Bendito Jung que dizia: O mal que eu evito me faz mal. Entāo me permito assim, a contra gosto, experimentar a ilusäo de cinderela. Tenho pensado muito , ultimamente, em romper com os modelos que fui colando em meu ego. Sinto uma vontade que vem da alma de pegar a bagagem do que Sou, simplificá- la e me permitir sair por estradas a conectar com as acontecências na alegria de acolher as imperfeições, no gozo das experimentaçōes no agora, sem planos, nem projetos, apenas Zendo. Sem máscaras vou me libertando dos pronomes possessivos. Afogando os "meus", pescando os &quo
Autogenia Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora/MG Nada melhor que a mudança de lugar para contribuição de um processo autogênico. Entenda-se “autogenia” como mudança de “Estrutura de Pensamento” e relação entre os tópicos desta. Quando mudamos de lugar, os hábitos têm a possibilidade de mudar. A visão de mundo tende modificar. “O que acha de si mesmo” começa a se reformular. Mas, este é o caso de alguém que está disposto a mudar e suas condições da Estrutura de Pensamento contribuem para tal acontecimento. A quebra de paradigmas é fruto do confronto com a realidade. Muitos agendamentos são feitos ao longo do desenvolvimento e resultam em “pré-juizos” que podem gerar uma série de incômodos ao serem confrontados com a realidade. Situações novas, pessoas com as quais não convivíamos, primeiras impressões que são reconhecidas como grandes erros de interpretação. Deparando-se com o mundo novo, a Estrutura de Pensamento não consegue ser mais a mesma. Novas aventu
Crônica para os que morrem de amor Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Se por ventura, um dia desses, encontrar a minha professora de literatura da sétima série na rua, chamarei para uma conversa bastante séria. Onde já se viu tamanha irresponsabilidade: ensinar o romantismo de maneira tão empolgada a adolescentes, que estão formando seu ideal de amor... Aprendemos que é bonito sofrer, entregar a alma ao outro, até morrer pelo outro, no melhor estilo Augusto dos Anjos. E aí se formam pessoas como eu, defasadas pelo menos 200 anos no modo de se relacionar. Brincadeiras e exageros à parte, o assunto é da maior relevância. Assim como não recebemos manual de como viver quando nascemos, também não somos educados para a vida emocional e tanto menos afetiva/amorosa. Pode ser problema da minha geração, que não dispunha de tantas ferramentas e profissionais para análises e tratamentos, mas talvez não seja. E como desconfio que nos últimos dois mil anos a humanidade não
NÃO SOU NEM QUERO SER O SEU DONO Ildo Meyer Médico e Filósofo Clínico Porto Alegre/RS História contada por um amigo. Ao chegar ao bar da moda, uma mulher logo chamou sua atenção. Aproximou-se, pediu licença para sentar ao lado dela e iniciaram uma animada conversa. Passados alguns minutos, surge um homem bastante irritado e lhe pede para se afastar, pois aquela mulher era “dele”. Sem demonstrar nervosismo, meu amigo pediu desculpas argumentando que a mulher não havia lhe dito que tinha dono, mas gostaria de saber onde fora comprada, o preço pago, quantos anos de garantia... Acredite se quiser. Contei essa história para ilustrar o sentimento de posse que, em maior ou menor intensidade, costuma aparecer nos relacionamentos. Será que o fato de carinhosamente se chamarem de meu amor, minha querida, meu namorado, minha esposa, meu fofo, vai lentamente incutindo a sensação de que “o outro é meu”
Fragmentos filosóficos delirantes XLIII* "O fogo é uma noz que não se quebra com as mãos. A voz vem do fogo, que somente cresce se arremessado. Não há como recuar depois de arder alto. Fui lançado cedo demais às cinzas" "Fazer as coisas pela metade é minha maneira de terminá-las" "A queda atalha a subida, o homem permanece uma pronúncia inacabada (..) Tantas vezes caí em teu lugar, que descobri o inferno" "Ser inteiro custa caro. Endividei-me por não me dividir. Atrás da aparência, há uma reserva de indigência, a volúpia dos restos. Parto em expedição às provas de que vivi. E escavo boletins, cartas e álbuns - o retrocesso da minha letra ao garrancho. O passado tem sentido se permanecer desorganizado. A verdade ordenada é uma mentira. O musgo envaidece as relíquias. Os dedos retiram as teias, assisto à revoada de insetos das ciladas. Fujo da claridade, refulge a poeira. O par de joelhos na imobilidade de um rochedo.

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