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Fragmentos filosóficos delirantes XLIV*


"A missão de um cantador
é de andar pelas estradas,
levando a sua função
nas rimas improvisadas.
um menestrel dos abismos,
das regiões assombradas,
contra a forca negativa
que arrasta a quem quer cair.
um rei começa a rugir
contra essa besta nociva,
que habita em carne viva
dentro de nós com furor,
mas existe um defensor
para defender o crente.
some o leão com a semente
e tens o destruidor

prá falar de um cantador
não bastam só teorias,
nem medos nem fantasias
exprimem o seu valor.
ele não é um doutor,
e nem mesmo tem posição.
mas em qualquer reunião,
quando canta o seu repente,
o povo fica contente
com a sua disposição.

diz ele tantas histórias,
que prende com seu carisma
um povo que nunca cisma
com sua lutas inglórias,
e tendo essas memórias,
porteiras por desvendar,
um pouco vai concentrar
nas celas do seu juízo,
e o fogo do improviso
começa logo a queimar."

"Não há muito o que falar a respeito dessa linhas, a não ser o seu conteúdo musical e matemático mais do que científico e profano, ao nível de se arvorarem nas ignorâncias que se desafiam em suas margens e misteriosos limites de invasões, transas e progressos que socorrem o risco de se arderem no fogo místico do coletivo consumo. No mais é exercício. Vontade de tocar e cantar alguns sinais que prosseguem na sua determinação mecânica e já não mui-desconhecida... Alguns deles estraçalham-se pelos espaços incontidos e dedos nervosos naquela intuição que se move sob o carbono progressivo dos seus traços e avanços.

não adianta fechar minha boca, meus olhos falam e meu cabelo grita.

é inútil taparem meus olhos,
minha mão vê
e minha pele recita

impossível selar meus ouvidos, minhas pernas ouvem
e minha coluna insista.

debalde virem bloquear meu nariz cotovelos expiram
e a respiração lhe excita

tempo perdido matar um segredo o corpo renasce
e portanto reflita"


* Zé Ramalho

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