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Vontade dirigida

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre-RS

Outro dia estava em uma roda de bar, com amigos. O fato de optar sistematicamente por água mineral enquanto todos consumiam cerveja e chopp levou à discussão sobre o hábito de beber.

Eu não tomo cerveja e chopp porque ficam uma semana fermentando no meu estômago e não consumo as bebidas destiladas porque me dão sono. Fora esses argumentos, confesso que o único estado de consciência alterado que me agrada é o da meditação – o que, evidentemente, não me torna aquelas quase abstêmias radicais que só faltam fazer o sinal da cruz quando passam na frente de um bar.

Em determinado momento da conversa, perguntei a uma amiga se ela conseguiria ficar sem beber e sem fumar durante os nove meses de gestação de um bebezinho, desejo que é ponto pacífico nela. Não houve titubeio. A resposta foi imediata: lógico!

Acredito que esse recorte dos acontecimentos da noite permite várias interpretações, mas vou me ater a um: o poder da vontade dirigida. Eu acredito sinceramente que minha amiga ficará sem beber e sem fumar enquanto gera uma nova vida. Mas não acredito que da noite para o dia ela pararia de beber e fumar pura e simplesmente porque não se tratam exatamente dos hábitos mais saudáveis que alguém pode ter.

Isso me faz pensar o quanto nós, pobres seres humanos mortais, somos poderosos, quando floresce em nosso coração algo que é maior que nós mesmos, ou que nos conecta com algo que é maior que nós mesmos.

Gerar uma nova vida é sem dúvida um dos gestos mais nobres que um ser humano pode ter, e que por si só merece todo cuidado, todo zelo, toda uma energia canalizada para que venha saudável e potente para ser feliz e realizada. Por esses motivos, e por tantos outros mais, minha amiga não tem dúvida de que conseguiria parar de fumar e beber. E mais: faria questão. Para ela, não importa o próprio prazer. Ela o sacrifica, em nome de algo que entende merecedor.

Eu acredito que a vida, vira e mexe, nos convida a rever nossos conceitos e hábitos. Uma pessoa pode parar de beber e fumar como forma de zelar e honrar por uma nova vida que chega. Outra pessoa poderá fazer o mesmo por outras razões. Quantas vezes, por exemplo, ouvimos relatos de pessoas que o fizeram durante uma promessa e pedido pela salvação da vida de alguém? Muitas vezes o despertar espiritual leva ao mesmo caminho.

O que mais me encanta, nessas histórias todas, é o altruísmo. Por outro, nos superamos. Pelo outro, somos capazes de extrapolar nossas limitações e nos colocar a serviço. E assim renovo minha crença no ser humano. O mundo tem jeito!

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