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Afinal, você está namorando?

Ildo Meyer
Médico, Escritor e Filósofo Clínico
Porto Alegre-RS


A História: O imperador romano Claudio II proibiu casamentos durante as guerras com o argumento de que homens solteiros eram melhores combatentes. Um bispo chamado Valentin rebelou-se contra esta ordem e continuou celebrando casamentos secretamente. Acreditava tanto no amor que foi mais além, casou-se também.

Descoberta a transgressão, Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto aguardava sua execução, sucumbiu novamente ao amor e apaixonou-se pela filha cega de um carcereiro. Comunicavam-se através de bilhetes onde assinava sempre “seu namorado Valentim”. Reza a lenda que milagrosamente a amada recuperou a visão, o que explica como conseguia ler sem enxergar.

Valentine’s day é celebrado como o dia dos namorados no dia 14 de fevereiro na maioria dos países. No Brasil os namorados comemoram em outra data, 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, conhecido por seus “milagres” casamenteiros.

A Função: o namoro foi criado como uma instituição de relacionamento. Casais de adolescentes encontrariam-se buscando descobrir e criar afinidades, afeto e cumplicidade que um dia lhes possibilitariam assumir uma convivência conjunta no matrimônio. No inicio era um processo muito vigiado, onde uma pessoa, chamada popularmente “chá de pêra”, acompanhava os namorados durante os encontros. Mesmo com os hormônios à flor da pele, relações sexuais entre namorados não eram a regra.

A Adaptação: A partir da revolução sexual dos anos 60, o namoro se transformou em uma entidade mais liberal. A vigilância foi relaxada, namorados passaram a se relacionar mais intimamente e o casamento deixou de ser o objetivo final. Surge a internet permitindo namoros virtuais apesar da distância fisica. Mutações no grau de compromisso e envolvimento afetivo desenvolvem criaturas estranhas: tico-tico no fubá, amizade colorida, transa, paquera, rolo, ficante, peguete...

A Confusão: Você pode ter três pretendentes, dois paqueras, um ficante, quatro rolos e mesmo assim não ter ninguém. Você também pode ter um só namorado e ele valer por dez ao mesmo tempo. Vale tudo. Cada um sabe (ou pensa que sabe) suas carências e expectativas. Somos livres para escolher.

A Escolha: Em tese, a maioria das pessoas sonha ou já sonhou encontrar um príncipe encantado e viver feliz para sempre. Quando acordam geralmente surpreendem-se ao perceber que príncipes e princesas transformaram-se em sapos. A prudência recomendou não sonhar tão alto e cair na real. Independência financeira, senso de humor, sinceridade, educação, nível cultural, romantismo, sensibilidade, companheirismo, cumplicidade. Nem precisa tudo isso, é só não cair na rotina, não se acomodar, não cobrar, não agredir, não mentir, não trair, não entediar.

Mesmo com expectativas menores, desilusões amorosas continuam a acontecer e no intuito de se proteger, alguns optam por não mais sofrer. Preferem ficar paralisados no limbo amoroso e encontram apoio em expressões do tipo “antes só do que mal acompanhado”, “enquanto não encontro a pessoa certa, vou me divertindo com as erradas” ou ainda “casamento é um seguro para os piores anos de sua vida. Para os melhores, você não precisa de marido”.

O Acaso: Você está sozinho(a) no cinema e senta ao seu lado uma pessoa interessante. Conversam amenidades e ao final do filme trocam telefones. No dia seguinte uma ligação e um convite para um novo encontro. Ao mesmo tempo em que tem vontade de aceitar, pensa em todos os sapos que já conheceu. Resolve pagar pra ver.

A cada encontro uma descoberta, um sorriso mais frouxo, um encantamento, uma carícia e quando se dão conta estão flertando. E agora? Você queria uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, jantar, dançar, viajar, transar? Encontrou. Pode estacionar e ficar seguro neste programa social agradável, mas também pode correr o risco de tentar algo mais profundo, gostoso e enriquecedor. Pode apostar em um namoro.

A Aposta: Namoro é um teste, um ensaio. Pode até não dar certo, mas não é um simples passatempo. Envolve incertezas, ajustes, química, paciência, dedicação.

Namora-se não apenas para um casamento de papel passado ou um compromisso de estabilidade, mas para que se aprenda junto a arte da entrega e da doação. Não pode haver pressa, subterfúgios, cálculos, premeditação. É preciso deixá-lo acontecer. É importante ter tempo para se tocar a alma, conquistar a confiança, encaixar os corpos e ai sim, construir um casal.

Namorar é sentir saudades do outro, ter um colo pra chorar, um segredo pra revelar, um ouvido pra escutar, uma boca pra elogiar, uma maça pra dividir, um corpo pra esquentar, alguém para amar. Namorar, acima de tudo, é não ter vergonha nem medo de se entregar, e assim fazendo, encontrar eco em seus sentimentos.

O Prêmio: Um dia você se dá conta que pensa no seu namorado(a) quando acorda, toma banho, almoça, caminha na rua, lê o jornal, escuta uma canção. Tem vontade de ligar para contar uma novidade, perguntar algo ou só pra ouvir a sua voz. Conta as horas para ficarem juntos no final de semana. Descobre então, quase sem acreditar, que ganhou na loteria. Está amando. O dia dos namorados é para pessoas como você. Parabéns!

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