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As vidinhas sob os meus auspícios


Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre-RS


De todas as alegrias que a vida já me deu e continua dando, quero falar de duas que são muito especiais. A primeira delas é o aprendizado da filosofia como algo vivencial e prático e a segunda é a ‘maternidade’ da Miara, da Pipoca e do Peppe, meus gatinhos viralatas lindos.

O ponto de intersecção entre essas duas alegrias foi uma aula em que se estudou sobre a vida ‘nas’ coisas, algo diferente da vida ‘das’ coisas. Faz muito tempo atrás e convidava cada um a entender a vida como uma força superior, suprema, presente em todo o universo e que se manifesta das mais diversas formas: árvores, plantas, animais, riachos, pessoas...

Desde então vejo tudo com outros olhos.

Uma pedra não é apenas uma pedra. É um organismo com zilhões de possibilidades de formas que reuniu determinados elementos que lhe garantem textura, peso e composição únicos. Uma planta não é apenas uma planta. Mais complexa que a pedra, gera flores, frutos, sementes, uma infinidade de formas e cores.

E um ser humano, pelo amor de Deus, é muito mais que um animal pensante. Tem sentimentos, emoções, sonhos, ideais. É capaz de estabelecer relações e interagir e interferir no meio que o circunda.

Tudo que está em nossas mãos tem vida, pulsa e vibra. Inclusive fatos, situações, contextos. Se observarmos com atenção (para ficarmos em um exemplo presente), até mesmo os textos têm vida, expressa no seu ritmo, conjunto de vocábulos, mensagens que passam.

Têm ‘tom’, ‘cor’, do momento em que foi escrito e que por todos esses motivos é capaz de unir escritor e leitor em um mesmo rasgo de sensações no tempo e espaço da composição e leitura.

Para muitas pessoas, isso tudo é muito poético. São os seres humanos sensíveis, atentos ao belo, apaziguados, para quem tudo tem um sentido. São aquelas pessoas que vêem nuances, acreditam na introspecção e que conseguem parar tudo pra admirar e contemplar o pôr-do-sol no horizonte, os pingos de chuva que escorrem pela janela...

Para muitas outras pessoas, essas ideias soarão como ‘viagem’, ‘meras abstrações’. São aquelas pessoas pra quem existe 8 ou 80, preto ou branco, partida e chegada, rotinas e esquemas... São pessoas pra quem tudo precisa ser dito, mostrado, e declarado, e nada apenas sugerido. É uma forma de ler e sentir o mundo.

Como libriana que sou, minha humilde opinião é: nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Ver e sentir a poesia cotidiana e a vida que nela existe é lindo, coisa pra almas sutis. Mas administrar bem o cotidiano em suas demandas e necessidades é básico, coisa pra almas práticas.

Fiquei pensando... Na sua opinião, quais dos dois estilos está mais perto de um estado de percepção da vida ‘nas’ coisas e não apenas ‘das’ coisas?

Mas deixemos essas filosofias pra outro momento. Terminemos por aqui. Minhas salsas precisam de água. Fora isso, hoje está fazendo tempo bom e provavelmente logo logo passarinhos vão se empoleirar na sacada vizinha, pra namorarem e provocarem minhas ‘mimis’, pra alegria da ‘mami’ que vai parar tudo pra contemplar o momento.

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