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Sfumato

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre-RS


Iniciei o ano tocando pandeiro. Melhor: tentando aprender, sob a orientação de amigos que se revezavam no violão, no microfone do videokê e na coreografia. Tamanho o talento das pessoas, em minutos já tínhamos nos arranjado para formar uma banda que até nome já tem: Inimigos do Ritmo.

Mas não estou escrevendo para divulgar o novo grupo musical, cujo repertório contempla, a julgar pelo primeiro ensaio, estilos como gauchesco, pagode, MPB, música latino-americana, bossa nova e jovem guarda, com possibilidade ainda de expandir para o samba e axé. Isso tudo sem considerar a grande chance de o grupo criar seu próprio estilo musical, para desespero principalmente dos vizinhos.

Estou escrevendo para falar sobre sfumato. A palavra, em italiano, significa exatamente ‘esfumaçado’. Um dos maiores gênios da humanidade, Leonardo da Vinci, a adotou como um dos eixos de sua filosofia de vida. Acreditava, o artista e cientista, que saber lidar com a nebulosidade e a incerteza constituía um dos pilares da vida inteligente.

Concordo. Viver pressupõe uma dose de aventura, compreendida como um espaço aberto para a ocorrência de imprevistos e surpresas, sejam elas boas ou nem tanto. Algumas pessoas apresentam grande dificuldade em lidar com acontecimentos fora do planejado, enquanto outras simplesmente não conseguem planejar. São dois extremos desaconselhados: o ideal é o caminho do meio.

Evidentemente, viver o sfumato pressupõe algumas premissas. Uma delas é estar disponível para vivenciar experiências novas e diferentes, nem que seja tocar pandeiro no réveillon, considerando que toda sua escola musical é clássica e voltada para instrumentos de corda e considerando que samba, pagode, axé e afins não são definitivamente sua praia.

Parece algo simples, mas não é. Basta observar nosso estilo de vida: todos os dias tendemos a acordar na mesma hora e seguir a mesma sequência de compromissos, desesperados para maximizar o tempo.

Essa corrida louca contra o relógio nos impede de apreciar a beleza da vida, que, segundo Leonardo da Vinci, é outro pilar da vida inteligente. E ele ainda dá uma dica: aguce os seus sentidos, ouvindo boa música (desconsidere por enquanto nossa banda), a boa gastronomia, as belas obras e paisagens...

Sfumato é uma forma de se reinventar, de se fazer novo, a cada dia que passa. Experimente colocar na sua agenda.

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