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Fragmentos filosóficos delirantes LV*

"O mundo tem razão, sisudo pensa,
E a turba tem um cérebro sublime!
De que vale um poeta - um pobre louco
Que leva os dias a sonhar - insano
Amante de utopias e virtudes
E, num tempo sem Deus, ainda crente ?"

"A poesia é de certo uma loucura,
Sêneca o disse, um homem de renome.
É um defeito do cérebro...Que doudos!
É um grande favor, é muita esmola

Dizer-lhes bravo! à inspiração divina,
E, quando tremem de miséria e fome,
dar-lhes um leito no hospital dos loucos
Quando é gelada a fronte sonhadora,
Por que há de o vivo que despreza rimas
Cansar os braços arrastando um morto,
Ou pagar os salários do coveiro?"

"Meu leito juvenil, da minha vida
És a página d'oiro. Em teu asilo
Eu sonho-me poeta, e sou ditoso,
E a mente errante devaneia em mundos
Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes
Do levante no sol entre odaliscas
Momentos não passei que valem vidas!
Quanta música ouvi que me encantava!
Quantas virgens amei!(...)"

*Álvares de Azevedo
Poemas malditos
1831-1852

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