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Protocolos sociais

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre-RS


Outro dia acompanhei um debate acalorado sobre as escolhas de duas pessoas, uma relacionada a afetividade e outra a imagem pública. Para fins didáticos, vamos considerar aqui personagens A e B, respectivamente.

Nosso personagem A, feminino, havia saído de um relacionamento homossexual, disposto a encontrar agora o homem de sua vida. O sujeito, conforme as orientações da mãe da moça, deveria ser rico, de boa família, e disposto a dar a sua filha uma vida doméstica de conforto material, filhos saudáveis, viagens e muitos mimos, isentando-a dos dissabores e dificuldades de uma vida profissional.

Nosso personagem B queria trocar o carro por um importado, terminar de pagar o apartamento em um dos melhores bairros da cidade, e assumir um ar mais charmoso, renovando o estilo a partir de suas roupas e corte de cabelo. Para isso, logicamente, contava com a possibilidade de um auxílio da família, especialmente da mãe, que torcia muito para que o filho ‘desse certo’ na cidade grande.

A criticava B: você quer mostrar algo que não é ainda por cima comprometer os bens e os esforços de sua família nessa loucura.

B criticava A: você é interesseira e está mais preocupada em dar alegria pra sua mãe, sem se preocupar se vai ou não fazer feliz a pessoa que casar com você.

Estava bem divertido, mas já começava a cansar, ver os dois se engalfinhando. O que tornava ambos diferentes, em resumo, eram os objetos de seus desejos. Em essência, ambos estavam, de alguma forma, negando suas naturezas, em favor de um personagem.

Peguei meus livros, a bolsa, e fui pra casa. Chega uma idade, na vida do sujeito, que não se tem mais paciência pra meros protocolos sociais, sejam os de aturar companhia desagradável, sejam de se submeter ao desejo e vontade alheia, não importando se e da mãe ou do lugar onde moramos.

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