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Introdução ao Vice-Conceito

Bruno Packter
Filósofo Clínico
Florianópolis/SC


Vice Conceito, segundo Lúcio Packter, é um procedimento clínico que diz respeito aos conceitos que se substituem. Na Filosofia Clínica, Vice Conceito é a mediação dos símbolos na malha intelectiva por construção, derivação e associação, de maneira que a pessoa possa lidar com aspectos de sua vida.

Na obra A Filosofia das Formas Simbólicas, o filósofo Ernst Cassirer tem como objetivo mostrar como o homem constrói um mundo sobre o qual se destacam objetos e nexos entre esses objetos. Nesse sentido, sua busca se dá pelos modos da “função simbólica”, ou seja, com tudo aquilo por meio do que o homem se destaca da diversidade das aparências sensíveis para enchê-la de sentido através de um ponto de vista unificador – a linguagem, o mito, a percepção e o conceito.

Para Cassirer, portanto, de fato o homem é um ser simbólico, pois suas relações podem ser pontuadas por símbolos.

Mas, na concepção da clínica filosófica não encontramos o mesmo respaldo, pois através do estudo da historicidade, verificamos que algumas pessoas não necessitam de mediações de símbolos. Essa relação da coisa em si com o símbolo é muito curiosa e ocorre de maneira subjetiva.

Na Filosofia Clínica, por exemplo, encontramos situações em que o símbolo construído não tem a menor ingerência sobre as vivências de um a pessoa. Mas, em outros casos, contextos diferentes, não.

Na historicidade, o filósofo vai encontrar pessoas, cuja vivência com determinadas questões é profundamente simbólica.

Como o filósofo clínico irá reconhecer na estrutura do pensamento da pessoa indícios do uso deste procedimento clínico vice-conceito? São pessoas que geralmente se manifestam através de linguagens metafóricas, de imagens e, que diante de um fenômeno, de um fato, de um evento, elas utilizam ou como maneira descritiva, ou como maneira de entendimento, símbolos, construções mentais, imagens e etc.

A maioria das pessoas usa símbolos. Quando esses símbolos são arraigados, são profundos, eles têm alicerces na malha intelectiva da pessoa, têm conformações muito próprias, muito densas que inclusive podem fazer com que a pessoa viva em si determinada coisa que de outra maneira ela não poderia.

Por exemplo, uma pessoa fortemente enferma, foi informada que precisa se submeter a uma grave cirurgia. Um crucifixo como símbolo, pesquisado na historicidade da pessoa, poderá servir de mediação entre ela e a experiência que se aproxima. Esse encaminhamento se dará muitas vezes pela interseção do filósofo clínico com o partilhante.

Quando os símbolos estão arraigados, são profundos, eles têm alicerces na malha intelectiva da pessoa, têm conformações muito próprias, muito densas que inclusive podem fazer com que a pessoa viva em si determinada coisa que de outra maneira ela não poderia.

Algumas demandas na vida são tão cruéis, tão insuportáveis a priori que se a pessoa tiver que lidar com elas sem a mediação de um símbolo, um Vice Conceito essa pessoa poderá se fragmentar.

Às vezes, um Vice Conceito – um símbolo – pode ser utilizado a posteriori, depois que a pessoa passou por um evento muito traumático, para que possa compreender mais tarde o que ocorreu. Um Vice Conceito em alguns casos pode estar associado aos termos do conhecimento, da aprendizagem.

O Vice Conceito, às vezes, é estruturado antes da experiência e, que pode ser utilizado como profilaxia, algo que a pessoa poderá usar para a vida dela, para as coisas complexas que surgem. Por exemplo: a crença, a fé. Conforme o juízo prévio, prova-velmente será assim.

Existem pessoas que vivem por conta dos símbolos e são eles que as mantém vivas. Se o símbolo for retirado da vida delas, provavelmente teremos sérios problemas. Essas pessoas terão dificuldades em respirar, em viver, não saberão o que fazer e pra onde ir nesse mundo. Por esses motivos, o filósofo clínico precisa ter um profundo respeito pelos símbolos que habitam na pessoa.

Pessoas extremamente simbólicas derivam símbolos de símbolos. São pessoas que tendem às abstrações, suas derivações. Criam símbolos, amarram símbolos entre si e vão muito longe nessas construções simbólicas, ou seja, vão Em direção às Ideias Complexas.

Podemos trabalhar os signos que habitam no intelecto da pessoa e formatá-los na forma de um símbolo. Por exemplo, uma criança com medo de dormir no escuro. Neste caso, a mãe pode deixar a luz acesa no corredor, pois assim o “fantasma” não entrará no quarto. No exemplo, a mãe cria o símbolo e rompe com o anterior. Aqui, trabalhamos a troca de símbolos e das construções em torno deles e como eles interagem com a pessoa.

Identificamos na clínica filosófica que o Vice Conceito não é bom, nem ruim, depende, muitas vezes, das construções em torno dele e como ele interage com a pessoa.


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