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Meu encontro com Dra. Nise da Silveira

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta e Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG

Tem momentos da vida da gente que são inésquecíveis,
Um deles foi aquela noite, no Rio de Janeiro.
Eu havia terminado minha pós graduação em
Psicologia Junguiana no IBMR.

A psicologia profunda de Jung sempre me instigou a pesquisa.
Sabendo da existência da psiquiatra rebelde,
que questionou os métodos desumanos da psiquiatria,
e criou novas formas de tratar os portadores de transtornos mentais,
que esteve presa com Olga Benário por ser comunista,
foi discípula de Carl Gustav Jung,
aventurei-me a conhecê-la pessoalmente.

Na época ela estava bem velha, mas muito lúcida.
Liguei para sua casa e marquei o encontro.
Ela não colocou nenhum impecillho,
mesmo sendo eu uma simples psicóloga desconhecida dela.
Imaginem minha ansiedade para este encontro marcado!

A rua estava escura e o local de seu apartamento bem ermo.
Bati a companhia e sua assistente me recebeu.
Ela pediu que eu a esperasse na saleta.
Foi então que passei um dos maiores apertos de minha vida.

Foram chegando vários gatos angorás, enormes.
Eles me rodearam e um deles sentou-se em meu colo.
Fiquei inerte, em pânico, pois sempre tive medo dos gatos,
Apesar deles gostarem de mim.

O tempo tornou-se eterno naquela uma hora de espera.
- Pode entrar, dra Nise a espera.

Vim a saber mais tarde, que o tempo com os gatos,
era uma forma de avaliação para ser recebida por ela.

Dra Nise carinhosamente me acolheu.
Serena e muito solícita respondeu minhas perguntas,
E por um longo tempo conversams sobre tudo.

Meu interesse principal era saber sobre o filósofo Spinoza,
Que influenciou bastante seu trabalho.
Conversamos sobre mandalas na pintura dos esquisofrênicos,
E sobre a Casa das Palmeiras, instituiçao criada por ela,
que não segue padrões convencionais.

A lição que ela me deixou naquele encontro foi que
eu não devia me prender a uma teoria,
mas, escutar a pessoa que me procurava.

Ela me convidou a seguir o coração e não ter medo de lutar
Por meus ideiais revolucionários de servir.
Amei aquela velha mulher jovem a minha frente,
Com seus óculos redondos de lentes grossas.

Ela me aconselhou a ler com carinho o livro:
Psicologia e Alquimia, de Jung.
Dra Nise me disse, que por ter um espírito combatente,
Foi muito boicotada e perseguida.

Seus gatos, co-terapeutas, foram envenenados.
Senti sua tristesa e fiquei calada.
Aliás, eu só quis ouvir a Velha sábia a minha frente.

Convidou-me a participar do Grupo de Estudos C. G. Jung,
que qualquer pessoa podia frequentar.
Só estive lá uma vez, pois minhas obrigações de mãe e profissional,
morando em Minas Gerais, não me facilitavam.

Agradeço eternamente estes encontros com ela,
foi a partir deles que decidi, em muitas vezes,
ter a coragem de levar meus projetos a frente,
mesmo quando as circunstâncias colocaram dificuldades.

Quanto aos gatos, ainda não tive coragem de ter um,
mas, o gato branco, angorá, de minha vizinha,
dorme na porta de minha casa.

*(do meu livro: Eterna aprendiz , que se encontra no prelo)

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