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O Eterno Recomeço

Beto Colombo
Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC
Criciúma/SC


De 11 a 18 de junho fiz uma aventura que gostaria de ter feito há anos: o caminho de volta a ilha de Santa Catarina. Juntamente com mais 19 peregrinos, iniciei na praça XV, em Florianópolis, exatamente embaixo da centenária figueira, e retornei no mesmo ponto, oito dias depois.

Antes de retornar à figueira, caminhei 182 quilômetros percorridos em ruas asfaltadas, ruelas apertadas e até trilhas milenares estreitas. A cada passo uma surpresa, a cada morro um deslumbre, a cada subida uma expectativa, a cada descida um encontro.

Durante estes oito dias, me embrenhei nas matas quase que intocadas da ilha, conheci regiões inóspitas que sequer têm energia elétrica. Existem cantos da ilha que parece que o mundo não parou, mas ainda anda lentamente, num ritmo natural.

Mas em meu artigo de hoje, quero me ater a grande e bonita metáfora da partida e da chegada. Sim, pois na caminhada, tanto uma, a partida, quanto a outra, a chegada, ocorreu no mesmo lugar físico da ilha, no caso, a praça XV, um dos pontos mais visitados de Floripa.

Em nossa existência, quantas vezes saímos de um ponto e retornamos a ele, às vezes dias, meses e até anos depois? São padrões de relacionamento, de trabalho, enfim, forma de ser e de se posicionar, sem que transcendemos. Ficamos ali, remoendo, como um cachorro que corre atrás da cola.

Na ilha de Shikoku, no Japão, há um caminho de 88 Templos, onde os peregrinos saem do Templo 1, percorrem 1.400 quilômetros e chegam no templo 88, templo este que fica ao lodo do primeiro. De visão budista, este caminho milenar busca levar as pessoas a meditar sobre a impermanência da vida, ou seja, tudo está em movimento o tempo todo.

Fisicamente, cheguei exatamente no mesmo local em que deixei a figueira há 8 dias atrás. Mas aquele Beto Colombo que saiu não era o mesmo que chegou. Era outro, e bem diferente. Afinal de contas, como ser o mesmo se tive experiências fantásticas durante a caminhada? Como dizer que aquele peregrino que entrou na caminhada saiu o mesmo lá no final? Impossível!

Para mim, não temos como passar pelo caminho e o caminho não passar pela gente. Por isso, talvez seja importante estarmos atentos em nossa jornada diária, seja em casa, na sociedade, no trabalho. Aqui, geralmente nos apegamos a valores, a padrões, a forma de pensar que já não nos fazem sentido, pois os deixamos lá atrás na “figueira”.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre o eterno recomeço?

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