Pular para o conteúdo principal
Cegueira

Beto Colombo,
Empresário, Filósofo Clínico, Escritor
Criciúma/SC


Queridos leitores, hoje vamos comentar sobre cegueira.

Falando em cegueira, duas ideias me vêm à mente: a primeira é o livro do escritor português José Saramago, intitulado “Ensaio sobre a Cegueira”. Este livro, inclusive transformou-se num impactante filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles – uma boa dica para o próximo fim de semana.

A segunda ideia que me vem à mente é um livro um pouco mais velho, a bíblia. Nela lemos que Jesus cuspiu no chão, fez uma bola de barro, colocou nos olhos, depois tirou, e ele voltou a enxergar. Se levarmos ao pé da letra, Jesus apenas abriu os olhos de uma pessoa que não via a luz, porém, a verdade pode ser também que Jesus, na realidade, estava falando da Síndrome da Caverna.

Em sua obra República, Platão utilizou-se da alegoria de uma caverna para mostrar que o conhecimento consiste em o ser humano ficar livre das correntes que o condena a ignorância. “O ser humano está de costas para a saída da caverna, por isso só enxerga a própria sombra”.

Os homens são como escravos presos numa caverna e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora. Tomam essas sombras por realidade porque não conhecem outras.

Quando um deles consegue se libertar e visualizar a realidade externa, a luz ofusca suas vistas e o sol o deslumbra. Somente aos poucos e com dificuldade ele consegue adaptar-se a nova realidade, percebendo que o mundo em que vivera até agora era irreal, feito apenas de reflexo e sombras do mundo verdadeiro.

Se ele voltar e tentar convencer os outros que ainda estão acorrentados, corre o risco de ser incompreendido e até perigo de vida.

Escrevo isso levando em conta muitas discussões pós-palestras, onde existem questionamentos se o que se prega não é apenas utopias, que na prática não existem. Situações simples colocadas como gestão participativa, participação nos resultados, fim do emprego formal, centrar a atenção na competência básica, terceirizar tudo ou quase tudo que não for da sua competência básica, virtualizar o máximo possível, fazer parcerias com os concorrentes, relacionar-se com os funcionários como se fossem sócios da empresa e por aí vai, onde em muitas situações sou incompreendido, principalmente por empresários com mentalidade antiga. Para mim, tudo o que existe está ficando velho.

Talvez essa fosse a missão dos empresários filósofos de hoje: tirar das pessoas as correntes de alienação e favorecer o conhecimento sobre a nova realidade em que estamos inseridas, como no tempo de Sócrates.

Claro que não é um processo fácil nem rápido, mas deve ser enfrentado sob pena de ficarmos vendo as sombras dos novos fatos que estão acontecendo sem entender o significado do real, pois muitos além de cegos, também são surdos. E provavelmente o pior surdo é o que não quer ouvir e o pior cego é o que não quer enxergar.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre a cegueira?

Comentários

Visitas