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O tempo que resta

Sandra Veroneze
Jornalista e Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS


“O tempo que resta” é um dos últimos filmes a que assisti. É francês e mostra os meses finais de vida de um jovem fotógrafo que descobre sofrer de um tipo de câncer já em processo de metástase. O filme é sensível, triste e tem aquele tempo e tom especialíssimos que só os europeus sabem imprimir nas produções cinematográficas.

Em alguma medida, ‘O tempo que resta” lembra outro filme: “O poder além da vida”. Este fala também de um jovem que precisa encarar a morte ou a vida depois de sofrer um acidente de trânsito enquanto se prepara para participar das olimpíadas. Com os movimentos limitados, se vê obrigado a deixar para trás a vida de noitadas, mulheres e bebidas, contando com o auxílio e inspiração de um senhor que o jovem apelida de “Sócrates”.

A diferença das duas obras é que, no primeiro caso, o personagem principal desiste de viver e, no segundo, a tragédia serve como divisor de águas na trajetória do jovem, convidando-o a adotar valores e princípios mais elevados. Impossível não se sensibilizar tanto com uma como com outra obra e não por acaso lembro imediatamente de uma amiga que se diz ateia e que teme o acontecimento de uma grande tragédia na própria vida para que nela desperte a consciência sobre a existência de Deus.

Afora argumentos religiosos ou espiritualistas sobre a existência ou não de uma divindade, fato é que, para grande parte das pessoas, é necessária uma dor imensa ou perda para que atentem para o lado bom da vida. São inúmeros os relatos de pessoas que perceberam o modo de vida maluco que levavam só depois de um impacto emocional violento.

Lembro que, ainda na adolescência, considerando que pretendo viver pelo menos 80 anos, calculei quantos dias de vida me restavam. Surpresa, cheguei à conclusão de que era muita coisa para apenas cumprir o ciclo de nascer, crescer, reproduzir e morrer, ocupando boa parte da vida produtiva para acumular bens e recursos que seriam gastos na terceira idade, para tratar doenças decorrentes de um modo de vida inadequado.

Dica: Experimente fazer o mesmo e não espere uma notícia ruim para viver aquelas coisas simples do cotidiano que tanto bem fazem ao físico, ao emocional e espiritual: chimarrão com amigos (sim, sou gaúcha), passeios nos parques, férias na praia, trabalho voluntário, mais tempo com a família...

A notícia boa é que todos os dias temos a chance de nos reinventarmos e se o modo de vida que levamos não é nada inspirador, sempre há chance de mudarmos. Cada um sabe onde a vida puxa para baixo ou para cima e com um mínimo de boa vontade pode escrever um futuro completamente novo, verticalizado, e a partir de agora! Chave importante: cada um está onde se coloca. Em que faixa de vibração e qualidade de vida você se coloca?

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