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Sobre os terapeutas

Pe. Flávio Sobreiro
Poeta e Filósofo Clínico
Cambui/MG


Muitos barulhos me perturbam... O ruído dos carros, das vozes externas e das que em mim habitam. Já cheguei a pensar em procurar um terapeuta. Mas após consultar meus velhos amigos desanimei. Disseram-me que os terapeutas de hoje são muito tagarelas. Antes de o cliente terminar a fala eles já tem a receita para os conflitos que tumultuam os pensamentos.

Não! Não quero um terapeuta que tenha na ponta da língua as respostas das quais necessito. Quero encontrá-las sozinho! Afinal eles irão caminhar por mim? Óbvio que não! O meu caminho é único.

Quero um terapeuta que seja companheiro de jornada! Que olhe comigo as paisagens que vou descobrindo ao longo de minha caminhada. Quero um terapeuta com o qual eu possa partilhar meus medos e meus sonhos. Que tire os sapatos e pise no solo sagrado de minhas dores.

Terapeutas que desejam que eu sonhe os sonhos deles estão fora de minha agenda. Como posso sonhar o sonho de alguém? Impossível! Não quero um terapeuta que aplique suas teorias em minha história de vida. Quero sim um terapeuta que conheça a minha história e a respeite, sem julgamento nem preconceito.

Não! Não quero ser julgado. Mas será a partir da compreensão do meu terapeuta que eu irei também me compreender.

Disseram-me ainda que os terapeutas de hoje buscam respostas prontas nos manuais que as faculdades indicam. Tenho medo de terapeutas que amam mais os livros que as pessoas. Não quero ser mais um livro a ser estudado. Quero ser uma pessoa amada e respeitada.

Não quero terapeutas racionais! Quero um terapeuta poeta! Que fale com a alma e ouça com o coração. Quero um terapeuta que goste de flores e pôr do sol. Que leia Fernando Pessoa e Adélia Prado. E que compreenda o cotidiano como lugar teológico.

Meu terapeuta pode até ser ateu! Isso mesmo! Mas ele terá que respeitar as minhas crenças.

Quero um terapeuta que ouça o que eu nunca vou dizer! Que leia as frases sofridas e de alegria em minhas lágrimas. Não quero um terapeuta que viva no passado. Quero sim, um terapeuta que me faça enxergar cada nova manhã como experiências de ressurreição.

Se eu perceber que meu terapeuta é preconceituoso, irei abandonar a terapia imediatamente. Ele terá que olhar além dos meus rótulos. Afinal, meus sentimentos não estão com a data de validade vencida!

O terapeuta que busco precisa amar os filósofos! Ele deverá ser amigo da sabedoria. Mas uma sabedoria que não me deixe confuso, mas que aponte as estrelas nas noites escuras de minha alma.

Por fim, meu terapeuta terá que falar uma linguagem que eu entenda! Precisará ser humilde para adentrar a minha simples casa e comigo tirar o pó dos conceitos que me prendem, e ajudar a irrigar o solo seco dos meus jardins!

Enfim, meu terapeuta terá que ser humano!

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