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Poentes do que ficou

Pe. Flávio Sobreiro
Filósofo Clínico, Poeta
Cambuí/MG

Saudade é a palavra que se foi, o abraço que não se despediu, o olhar que se eternizou, a lágrima que ainda não rolou. Talvez uma das palavras mais complexas de se definir seja a saudade. O que não se pode explicar o silêncio eterniza. Saudade eternizada é aquela tarde que ainda vive nas estações da alma. É a chuva que ainda caí nas manhãs de inverno da alma.

O que fica da saudade é uma cicatriz silenciosa. Após a vida cumprir seu processo de cicatrizar a dor do que se foi, o silêncio não consegue verbalizar o que ainda vive. A vida que ainda cumpre seu ritmo nas esquinas das lembranças faz-nos deparar com aquilo que ficou estacionado no semáforo das emoções.

Andamos por ladeiras e navegamos em oceanos tempestuosos de sentimentos que não conseguimos expressar. Será a saudade um lugar perdido nas montanhas de nossa alma? Ou será que a tendo encontrado não conseguimos mais abandoná-la e lhe juramos fidelidade eterna?

O que se foi ainda tem o dom de ser presente. No poente das tardes de nossa alma ela chega de mansinho. Ela está viva na brisa serena que nos recorda um tempo que já não mais existe, mas que é tão vivo quanto o que sentimos. Verbalizar a saudade é tentar timidamente definir aquilo que não tem nome. O silêncio da palavra ressuscita a vida adormecida que insiste em ser possibilidade de um tempo que já se foi.

O que o tempo reconciliou o silêncio pode acordar. Nas possibilidades da vida que reaparecem nas tardes da saudade, o que foi sepultado renasce em tons de primavera... ou de inverno. O som da poesia silenciada ressurge em belas manhãs de um poente que se foi. O que ficou foi apenas a saudade e a cicatriz de feridas reabertas pelos poentes que em mim habitam e ganham as tonalidades das estações de minha alma.

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