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O jardim secreto

Pe. Flávio Sobreiro
Filósofo Clínico, Poeta
Cambuí/MG


Conta-se que num reino distante havia um rei que todas as manhãs caminhava pelos jardins do castelo onde morava. Nenhum súdito ousava interromper a caminhada matinal do rei. Certa manhã, enquanto caminhava pelo jardim, uma criança, filho de um camponês passou despercebido pelos guardas e ficou olhando ao longe o rei que caminhava tranquilamente. Curioso, o menino aproximou-se do rei e perguntou: “O que o senhor pensa ao caminhar por entre este jardim?”

Assustado com a criança que havia invadido o seu jardim, o rei chamou os guardas e mandou retirar aquele pequeno intruso imediatamente de sua presença. Ao longe, o rei pode ouvir o menino que dizia: “Não precisa me responder! Eu já sei o que o senhor pensa! O senhor não é capaz de dividir a beleza que seus olhos contemplam e por isso caminha sozinho pela vida”.

Muitos caminham pela vida sozinhos. Fazem de seus dias uma solidão sem fim. Acostumaram-se com a solidão. Muitos colocaram limites à presença de outras pessoas em sua vida. São arquétipos do rei que caminhava sozinho pelos jardins da vida.

O rei e a criança da história nos ensinam lições importantes para nossa jornada existencial! Muitos se tornam reis de seus próprios desejos e vontades. Criam belos jardins existenciais, mas são incapazes de dividir a beleza do que aprenderam na vida com outras pessoas. Contemplam seus aprendizados e ficam fechados em seus próprios jardins.

A criança que invade o jardim do rei é o próprio Deus que invade nossa alma. Ele adentra em nossos castelos que a princípio parecem impenetráveis. Passa despercebido pelos guardas que vigiam nossos jardins secretos e nos revela a verdade que escondemos de nós mesmos. Deus invade nossa solidão egoísta e convidá-nos a dividirmos as flores que perfumam nossas experiências.

Por vezes criamos castelos cujo único morador somos nós mesmos e impedimos que as pessoas se aproximem de nós, com medo de que descubram nossas imperfeições. Preferimos andar solitários pela vida contemplando as flores de uma existência sem sentido. Perdemos-nos em nossos próprios jardins da alma e impedimos que outros contemplem os dons que trazemos guardados em nosso coração.

Deus chega de mansinho, e nos mostra a verdade. Nosso segredo é revelado no olhar simples de uma criança inocente que fala sem medo às verdades que não queremos ouvir.

Na vida podemos ser reis de nossos próprios castelos de solidão e medo. Mas sempre haverá uma criança que invadirá nossos jardins e nos dirá que a vida só tem sentido quando todos puderem olhar em nossos olhos e contemplarem as belezas que trazemos plantadas em nossos canteiros do coração. Não importa se as flores são bonitas ou feias, o que realmente importa e podermos contar com o apoio e carinho das pessoas que desejam caminhar conosco pelos nossos jardins da alma.

Nos olhos que contemplam as flores da vida, Deus é a criança que nos mostra as flores do amor partilhado. O verdadeiro rei é aquele que consegue dividir suas fraquezas e alegrias com os que estão pelo caminho da vida.

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