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Sobre como andar de elevador

Will Goya
Filósofo Clínico
Goiânia/GO


Silêncio de elevador, ao lado de estranhos.
Por dentro não sei o quê,
Todos os pensamentos substituídos pela contagem dos andares,
Alívio que me impede ter que olhar outros olhos e dizer alguma coisa.

Dizer o quê?
Um relógio de números, sem ponteiros, sem palavras,
E o tempo sem envelhecer.
Tudo paralisado, menos o elevador.

Nos elevadores a vida tem segundos.
Mas o que são vinte segundos de vida, a pensar?
Sei olhar as horas, mas não sei o que é o tempo.

Os que têm relógio controlam o tempo?
Se vivesse minha existência num elevador...
Eu teria a vida de um filósofo.

Tudo é mais fácil quando há espelhos sem testemunhas.
Vaidades de camarim.
Vontade de não mexer os braços...
E se por acaso eu me encostasse em alguém?
O que eu teria que pensar? O que sentir numa hora dessas?
– Meu Deus!!

São muito engraçados o congelamento e o constrangimento existenciais
das pessoas durante uma “viagem” de elevador. É incrível como as pessoas
geralmente têm medo de tocar e de serem tocadas com gentileza.

Perdida a infância, é grande a dificuldade de se ser naturalmente humano.
Estrangeiro para mim mesmo,
Meu corpo se acumula em volumes de vazio e silêncio.

Entrar no elevador é como meditar, mas sem paz.
Pensar em como não pensar em nada.
[Emoções de contenção]

E penso: seria um ótimo ouvinte ou apenas falo pouco? Enfim...
O elevador para e a porta se abre ao mundo exterior.
Décimo andar. Volto a existir.

Quem pode deter um momento para além dele?
Então, todas as dúvidas desaparecem.
Dou um passo como quem sempre existiu...
Recupero os pensamentos, o corpo, e com eles uma certeza:
Triste é um homem viver sem TV, celular ou internet.
- Ai dos filósofos!

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