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Meus 60 anos

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta, Filosofa Clínica, Escritora
Juiz de Fora/MG


Nasci velha.
Eterno retorno. Renascimento neste tempo de envelhecer.
Por isto alegremente celebro meus sessenta anos.

Nasci no dia de Ação de Graças.
Desde pequenina olho para fora a questionar a existência e olho para dentro tentando encontrar minha essência... Sou esta que sou!

Chegar aqui é uma vitória. Para quem não poderia viver um dia, todo dia é um milagre. Assim tenho muito que contar e muito ainda a comunicar. Entro no tempo da realização e celebração, no caminho alquímico de fazer a alma.

Esta é minha carta de alforria para transgredir e subverter, para deixar sair esta rebelde que sempre me habitou e que por vezes reprimi. Poder viver sem culpa minhas imperfeições, livremente, e me expressar mais loucamente.
Agora é tempo de lapidação, do tirar as arestas e dar brilho à consciência no exercício da compreensão. Hora de soltar meu Dioniso e dar vazão as imagens criativas que me povoa deixando os deuses me guiar.

Cheguei ao alto da montanha. Plantei árvores, gerei filhos, escrevi livros. Plantarei muitas outras árvores, escreverei livros e cuidarei dos amigos com a ternura e amor de meu coração aprendiz.
Tenho a felicidade de ter um parceiro de uma vida, num compartilhar sereno e profundo, onde o amor ajudou a superar todas as dificuldades. Caminhamos lado a lado de mãos dadas, isto é uma benção.

Vislumbro o horizonte de possibilidades infinitas. Com eterno ânimo sagitariano.
Entre a puella (eterna jovem) e a senex (velha sábia) Estou! Aprendiz e caminhante. Eterna criança curiosa e sapeca.
Sei que preciso ir descendo lentamente, colhendo os frutos e as flores, registrando os caminhos pensados com o coração, com paciência e simplicidades, desapegando e me libertando dos excessos.
Descer é ir rendendo ao que sou. Com prazer de envelhecer.

Angustiadamente feliz, duvido, questiono, reflito e não perco meu caráter “Smita” de eterno sorriso de gratidão por ter nascido neste planeta e conhecido tanta gente interessante.
Olho para todo caminho trilhado e só tenho o que celebrar. Os momentos difíceis me fortaleceram. Nas doenças encontrei a saúde da alma. Dos conflitos aprendi a força da paz.

O verbo envelhecer significa, para mim, um estado poético da alma. A velhice é uma aventura, síntese de muitas experiências e estórias, aventura da lentidão.

Entro em um bom tempo, que sempre esperei. Tempo das reminiscências. Vou tecer lentamente os retalhos de minhas aprendizagens. Hora da grande Opus. Trocarei o que é saudável em minha natureza por o que é importante para meu caráter. Irei investir no companheirismo, nas amizades, na liberdade, nas artes, na natureza, no silêncio, no trabalho por prazer e na simplicidade.

Desejo uma longa velhice para “desemaranhar os nós e deixar as coisas certinhas”.
Tenho muitos para agradecer, pois se cheguei até aqui foi por causa de todos.
Agradeço aos meus pais e irmãos. Agradeço meu marido e filhos. Agradeço meus amigos. Agradeço meus alunos, ouvintes e pacientes. Agradeço aos inimigos. Não duvido que “nossa alma se faz” na relação com o outro. O rosto do outro evoca meu caráter. Aprendi e aprenderei enquanto me for dado viver e cada um é meu mestre nesta jornada.

Canto o encanto de poder ser e estar neste planeta. Saúdo o céu e o mar, as árvores e as flores, os pássaros e os animais. Saúdo meu Xamã curador. Cada dia, cada passo, cada amanhecer, cada encontro é uma oração e uma benção.

Agradeço ao Jung, ao Osho e a todos os mestres que povoam minha biblioteca e que me mostram o caminho da sabedoria.
Que bom poder parar e agradecer, com alegria no coração poder chegar aqui neste alto de montanha e ver horizontes.

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