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Retalhos da Alma

Pe. Flávio Sobreiro
Filósofo Clínico, Poeta
Cambuí/MG

Retalhos de velhos tecidos tornam-se bonitas colchas quando costurados com amor. O que era velho se torna novo. Tecidos que um dia marcaram momentos importantes da vida tornam-se um quando juntos unem-se para uma nova realidade. A arte de costurar os velhos retalhos de tecido exige paciência. É preciso se despedir daquela roupa que não mais tem utilidade. Recortar o que de bom ficou. Costurar é dar vida ao que restou.

Uma colcha de retalhos ganha aos poucos à sensibilidade de quem a confecciona. Cores, formas, desenhos, esperanças, dores... Muitos momentos unidos para um único objetivo: unir pedaços de velhos tecidos que foram esquecidos no fundo das gavetas do guarda-roupa da alma.

Em nosso guarda-roupa encontramos os momentos de nossa vida. Aquela camisa que marcou o primeiro encontro com a pessoa amada. O sapato que acompanhou a despedida de quem um dia conviveu conosco. O lenço que enxugou as lágrimas de uma saudade silenciosa. A blusa que aqueceu os frios nos momentos de indiferença. Cada roupa é um momento que ficou gravado nas estações de nossa alma...

Por vezes lembramos-nos das primaveras em que sentíamos o perfume das alegrias; dos outonos que anunciavam o frio de um inverno de despedidas; e do verão que aquecia a saudade de antigas memórias.

Muito se vive na vida e pouco se costura com o que foi vivido. Há um momento em nossa vida que é preciso abrir as portas do velho guarda-roupa da vida e ter a coragem de costurar aquilo que ficou solto ao longo de nossos caminhos existenciais. As lágrimas de antigas noites precisam ser costuradas a manhãs de novas possibilidades. Os retalhos de nossa história desejam se tornar uma linda colcha de retalhos daquilo que sofremos e amamos.

Nem sempre é fácil nos reconciliar com o passado das estações de nossa alma. Há roupas que um dia tentamos queimar. Colocamos fogo, mas, contudo ainda restou um pedaço do tecido molhado das lágrimas das noites que se eternizaram em nosso coração.

Abrir as portas de um novo tempo, retirar das gavetas da alma cada tecido de velhas experiências, alegres ou tristes, e cortar em retalhos cada momento de nossa história. Às vezes a agulha que irá unir os retalhos de nossa vida poderá ferir nossas mãos já cansadas pelas lutas da vida. No entanto o trabalho final será a colcha de tudo aquilo que somos.

Cada retalho da grande colcha de nossa vida revela uma parte daquilo que somos e vivemos. Não importa se os retalhos são tortuosos ou redondos. O que importa é que a diferença que em nós habita faz do caos a mais bela obra de arte do universo. Com a agulha da esperança, e a linha da fé, iremos costurar os retalhos de nossa história e contemplaremos a beleza de nossa essência.

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