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Multiplicidades

Pe. Flávio Sobreiro
Poeta, Filósofo Clínico
Cambuí/MG


Nem todas as manhãs de sol são lindas, e nem todas as noites sem luar são tenebrosas. Olhar a vida sempre de diferentes pontos de vista é o caminho para quem deseja ir além do que possa parecer normal.

Em tempos de normalidade, quem pensa diferente condena-se a uma perseguição preconceituosa. De normais o mundo está cheio! Mas o que é normal? No mundo dos conceitos e definições muitas poderiam ser as respostas. Mas no mundo da alma humana as definições são simplesmente uma maneira camuflada de dar uma resposta ao que ainda não tem nome.

Anormal é sempre um modo de definirmos aquilo que não compreendemos. Diante de alguém que desenha rabiscos sem sentido (o que já é uma definição de anormalidade definida antecipadamente por quem escreve), muitos podem pensar que o incompreensível é uma definição de que tal pessoa precise de um acompanhamento terapêutico.

Muitos foram parar em consultórios terapêuticos por transformarem suas tristezas em depressão. Afinal o que é a depressão? Em uma definição primária não seria uma tristeza vista a partir de conceitos psiquiátricos e psicológicos mais sofisticadas?

Fato é, que sempre o ser humano teve a tristeza como companheira de jornada. Estar triste é tão normal quanto estar alegre. Contudo a tristeza sempre foi vista como vilã no reino dos sentimentos. Anormal é estar triste em uma sociedade que reprime qualquer sentimento de tristeza. Para o ser humano estar bem é necessário estar sempre alegre. Mas como retirarmos de nós a anormalidade da tristeza sendo que ela faz parte de nosso processo humano?

Não sei se os avanços da psicologia e psiquiatria ajudam o homem a ser mais feliz. Num passado, não muito distante ninguém falava em depressão. Era um termo desconhecido. Hoje todos dizem: “Tenho depressão!”. Se este termo não tivesse entrado para a categoria de doenças e se nem mesmo tivesse sido criado, iríamos ouvir: “Estou profundamente triste!”. Fico sempre a me perguntar quais outros sentimentos serão catalogados como doenças. Os sentimentos humanos estão perdendo sua categoria de estados da alma e se tornando neuroses que adotamos como fatores doentios.

Anormal seria quem pensa diferente quando vivencia as mesmas situações que outros? Alguns terapeutas dirão que sim. Padronizar pensamentos e atitudes tem sido a base de muitos que se dizem terapeutas e buscam com seus métodos formatar o modo de quem pensa com os próprios neurônios. Normal é muitas vezes trilhar os mesmos caminhos e reprimir a criatividade que nasce das próprias experiências e vivências.

No mundo anormal, o normal é sempre um problema a ser solucionado. Ninguém deseja ser visto como anormal por ser e pensar diferente da maioria das pessoas. Felizes são aqueles que sentem a brisa serena de uma tarde de outono como um momento que não pode ser definido. Normais são aqueles que diante das folhas secas levadas pelo vento adentram nos territórios mais secretos de seu ser. Normal é toda pessoa que descobriu na sua anormalidade um caminho para ser feliz.

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