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Ir ao Mundo do Outro

Beto Colombo
Empresário, Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC
Criciúma/SC


Querido leitor, paz! Desde que passei diariamente a falar na Rádio Som Maior, muitas pessoas que me encontram debatem na rua, fazendo suas ponderações, assim como também fazem sugestões de temas e, geralmente, os acolho. Hoje, por exemplo, vou falar de um tema sugerido pela xará Albertina Manenti Silvestrini.

Refiro-me ao livro “Operação Cavalo de Tróia”, de JJ Benitez, lançado em 1984, que conta que no fim da vida, em seu refúgio no México, um militar e cientista da Força Aérea estadunidense confia a ele documentos que, surpreendentemente, revelam a execução de uma experiência que lhe permitiu voltar no tempo. Na verdade, retornar quase dois mil anos e ser testemunha ocular e participante dos últimos dias de Jesus Cristo na terra. Ele foi testemunha de sua entrada em Jerusalém, de sua prisão, julgamento, crucificação e ressurreição.

Esta experiência, batizada pela NASA de “Operação Cavalo de Tróia”, teria sido realizada sigilosamente em 1973, em pleno coração de Israel. O major chamava esta experiência prodigiosa de “a grande viagem”. Esta viagem exigia a aceitação e cumprimento de algumas regras na qual pretendo refletir com vocês, meus ouvintes:

A primeira regra era que os exploradores não podiam, sob nenhum pretexto, nem sequer de sobrevivência, mudar ou influir nos homens, grupos sociais ou circunstância. Resumindo: a história não poderia ser modificada. Já a segunda regra era de que os “grandes viajantes” não poderiam levar nem trazer nada do mundo do outro. Afinal de contas, suas missões não eram julgar as pessoas ou os acontecimentos, mas sim, observar e ser testemunha.

Boa parte dos meses anteriores à viagem, o major se dedicou a estudar a língua falada por Cristo, o aramaico ocidental ou galileo. O major não quis se aprofundar muito nos textos bíblicos, para enfrentar os fatos sem ideias preconcebidas e de espírito aberto, com a obrigação de observar e transmitir a verdade daqueles dias, conservando uma atitude limpa e desprovida de pré-juizos. Tanto a nave chamada de “berço”, quanto o major foram revestidos com uma película protetora para evitar que germes fossem ingressados em outro tempo e em outras pessoas.

Durante a releitura desta obra, agora com o olhar filosófico clínico, me peguei pensando nas vezes que vamos ao mundo do outro com a pretensão de influenciar na sua história de vida, às vezes com conselhos, fofocas. Quantas vezes vamos ao mundo do outro com a pretensão de torná-los a nossa imagem e semelhança. Das vezes que vamos ao mundo do outro como juízes e, pior, com a sentença pronta.

Que direitos temos de ir ao mundo do outro levando nossos germes? Será que temos o direito de ir ao mundo do outro levando nossos problemas, nosso mau humor, nossas queixas?

Lembro-me dos meus primeiros dias de estágio como aprendiz de filósofo clínico o quanto foi difícil exercitar o ouvido atendo, me dedicando em apenas ouvir a história de vida do partilhante sem interferir, sem agendar, sem julgar, sem interromper para simplesmente não mudar o curso da história do meu partilhante.

Para mim como pai, para você como mãe, como vamos ao mundo dos nossos filhos? Você professor, empresário, comerciante, político... Quem é o outro e como vamos aos seus mundos? O outro, para Emanuel Lévinas, é solo sagrado e não podemos adentrar nesse solo levando as sujeiras de nossas sandálias.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre ir ao mundo do outro?

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