Pular para o conteúdo principal
Pensando as redes sociais

Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG


Quero tratar aqui especificamente das críticas que surgem nas redes sociais, de qualquer forma, inclusive numa forma de intolerância. Frequento cada vez menos as redes sociais. Cheguei a conhecer algumas, mas usei somente o Orkut e o Facebook. Deixei de usar o Orkut e o Facebook ultimamente uso para manter contato com alguns colegas, conhecidos, amigos, para contatos profissionais e para divulgar o Alétheia, de onde vem a maior parte dos acessos.

O que tenho observado no facebook, talvez com mais força do que via no Orkut, são pessoas criticando tudo, tendo opinião formada sobre tudo, e tentando impô-la aos demais. No entanto, tenho observado críticas rasas demais, extremamente superficiais. Tanto nas críticas quanto nas defesas de certas posições, os atacantes e os defensores não aprofundam em quase nada – não espero pessoas formadas na área, me contentaria com um mínimo de aprofundamento nas questões, com estudos, leituras, pesquisas em geral, etc. Esses partidários da “livre expressão” de suas opiniões partem de um elemento, premissa, particular e generalizam como regra – esse é apenas um ponto dos muitos que aparecem.

Enquanto observava as postagens críticas, fui tentado a participar e cheguei a debater alguns assuntos. Porém, em determinado momento, notei que gastava tempo com discussões inúteis não levando a nada, principalmente porque os debatedores não estão dispostos a dialogar, trocar ideias, abrir-se a compreender a posição do outro. Acontece uma exposição de ideias numa verdadeira “Torre de Babel” onde ninguém entende a língua do outro e cada indivíduo acha sua opinião a principal.

Cansado desses debates, observei que quem era bem preparado para alguns desses discursos estavam na minha lista de amigos do facebook, mas não participavam. Fiquei intrigado com aquilo. Mas, logo vi que talvez eles já tivessem percebido bem antes, que em redes sociais não se debate. Nela, cabe apenas expor opiniões, até para simplesmente ter quem concorde com o propósito de alimentar o ego de alguns.

Esses “preparados” para várias discussões – políticas, sociais, científicas, religiosas, filosóficas, etc. – me ensinaram, com seu silêncio, que há espaço para esses relevantes assuntos serem tratados, mas, não era a rede social. Artigos, simpósios, colóquios, universidade, encontros, um bom diálogo pessoal, uma roda de amigos, enfim, quaisquer outros lugares que não sejam essas “redes sociais” onde o diálogo não é favorecido.

Não posso negar que encontrei quem se colocasse muito bem nessas discussões, conseguindo sintetizar um assunto que dominava, em apenas um “grande” comentário de três parágrafos. Mas, ser persuasivo, bem fundamentado, logicamente claro, não são requisitos fundamentais de um bom diálogo em rede social. O espetáculo, a superficialidade, a crítica exposta numa imagem com apenas uma frase, as piadas apelativas, são mais eficazes do que o esforço para entender que a vida é mais complexa do que aparenta quando se trata de certas questões – diria inclusive que todas as questões da vida são complexas.

E falando em parágrafos, algo que tenho percebido é a dificuldade que muitos têm apresentado para ler textos. Não digo que não leem. Hoje uma série de Best-sellers com 400 páginas estão lotando a mesa e quartos de adolescentes. Mas, quando falo em leitura, trato daquelas que visam formar uma mudança de ponto de vista (ou de abrangência deste), aquelas que sugiram que se veja além do aparente, que vão além do entretenimento.

Acompanho duas turmas de graduação, como tutor, e vejo como é difícil de pensar um texto de autores que tentam pensar o tempo em que vivem (a escrita desses estudantes dispensa comentários). Se os que pensam a pós-modernidade – quase descrevem a realidade atual – já não são compreendidos, os que pensam em termos universais em vista de tentar compreender o todo, os clássicos, sequer podemos citar. Fico fascinado quando vejo um autor como Nietzsche tão “adorado”, citado, fundamentador de opiniões diversas, enquanto é tão pouco conhecido. Também vejo o quanto a física quântica (e outras áreas) serve de fundamento para várias ideias por pessoas que sequer conhecem a física elementar.

As facilidades da internet geraram, para os que acostumaram a pesquisar numa biblioteca empoeirada e cheia de traças, mais uma ferramenta extremamente útil para aprofundar suas pesquisas. Mas, infelizmente, a geração que já surge com a internet é muito “capacitada” para buscar respostas prontas – desculpem a generalização, sei que não são todos. Se antes a televisão formava mentes passivas, a internet tem sido usada por muitos como ferramenta onde “ativamente” a pessoa escolhe ser passiva, onde as respostas são fáceis e onde a lei do menor esforço se mostra claramente. Temos hoje o grande sábio “Google” para qualquer problema.

O resultante disso tudo se encontra nos cientistas, filósofos, literatos, sábios, psicólogos, teólogos, doutores de internet, que tem opinião (ou “verdade” própria) formada sobre tudo e todos, defendendo uma liberdade de expressão que os mesmos desvalorizam quando vinda do outro. Não sou contra opiniões. Mas, prefiro boas premissas (ainda que opinativas) que me ajudem a chegar a boas conclusões, inclusive as que desconstruirão todo meu arcabouço de ideias formuladas sobre qualquer coisa.

Comentários

Visitas