Pular para o conteúdo principal
Filosofia Clínica e Aconselhamento Pastoral*

Muitas são as demandas quando entramos em contato com outro ser humano nos atendimentos paroquiais.

Tão vastos quanto os mistérios do ser humano são as dificuldades apresentadas pelo mesmo no processo de construção de sua história pessoal. Cada pessoa é única, e esta singularidade precisa ser respeita. Fórmulas prontas não servem para todas as pessoas.

No atendimento pastoral cada caso é um caso, cada história é uma história, cada lágrima é uma lágrima. Há lágrimas de felicidade e de dor. Há expressões faciais e gestuais diferentes. Há silêncios que podem dizer mais que mil palavras. Tudo isto é matéria prima para aquele que tem diante de si não apenas mais uma pessoa, mas sim um ser humano.

Fato é, que cada pessoa que procura um padre, não chega ali por acaso. Ela traz consigo um assunto imediato, que nem sempre é realmente a causa de ter chegado até ao padre. Muitas vezes o assunto imediato da procura pode conduzir a um assunto último.

Como aconselhar, indicar caminhos, quando não se conhece a história de quem está a nossa frente? Muitos padres indicam como recurso terapêutico a oração do salmo 22 diante de inúmeras dificuldades.

Muitos que nos procuram muitas vezes não buscam uma indicação de algum Salmo, pois tem uma fé muitas vezes maior que a nossa. O que busca um ser humano quando se apresenta diante de nós? O que ele traz em sua bagagem existencial? Como ele se localiza no mundo? Como ele vê o mundo que o cerca? Como ele vivencia o tempo em sua vida?

Sempre lembro que a prática do Aconselhamento Pastoral não é uma sessão de Filosofia Clínica. Pois a prática terapêutica da Filosofia Clínica requer tempo e estudo da historicidade da pessoa. É um processo longo e que requer inúmeros pressupostos para que possa se desenvolver de maneira satisfatória.

Na prática do Aconselhamento Pastoral, o padre não dispõe de muito tempo. Na maioria das vezes, ou em quase 100% das vezes, um fiel não volta para uma segunda conversa. Por isso o tempo que se tem deve ser aproveitado da melhor maneira possível.

A Filosofia Clínica não é uma prática de aconselhamento, pois é o ser humano que faz a trajetória de seu próprio caminhar, auxiliado pelo Filósofo Clínico. Não há conselhos, mas sim buscas e caminhos a serem trilhados.

Mas encontramos na Filosofia Clínica elementos que nos ajudam a colaborar com quem nos procura de uma maneira mais eficaz. Conhecer um pouco a história do outro, seu tempo de viver a vida nas múltiplas estações do coração.

Ouvir seus silêncios de maneira humana, deixando de lado os preconceitos que carregamos em nosso próprio coração é um dos muitos caminhos que a Filosofia Clínica nos aponta para que cada encontro seja de vida e vida em plenitude.

Pe. Flávio Sobreiro
Poeta, filósofo clínico
Cambuí/MG

Comentários

Visitas