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Filosofia Clinica - uma abordagem terapêutica com base na singularidade*

Vivemos numa época de pensamentos antagônicos, onde a tecnologia e a rapidez de comunicação das mídias sociais convive sem problemas com as mensagens de auto-ajuda e correntes de pensamentos positivos.

Como comenta Edgar Morin em "A minha esquerda", há uma percepção geral de que as necessidades humanas não são apenas econômicas e técnicas, mas também afetivas e mitológicas. Enunciado este, já feito pela banda Titãs com a música, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte".

A possibilidade de pensar os problemas de cada um em específico, entendendo a pessoa dentro do seu universo e da sua linguagem, entendendo e trabalhando suas necessidades no sentido do seu bem-estar, é o que se propōe a Filosofia Clínica.

A Filosofia Clinica é nova abordagem terapêutica, Idealizada na década de 90 por Lúcio Packter, um médico gaúcho, que tem como fundamento teórico a filosofia. Com um método de pesquisa e um vocabulário próprio, Packter se referencia em filósofos como Schopenhauer quando fala da representação de mundo de cada um, base do estudo da singularidade.

O que realmente tem significado para cada pessoa é muito específico. O que faz sentido para alguns não são mais convenções sociais, dilemas de condição econômico-social, sendo que para determinados individuos, isso possa ainda estar presente.
Esta multiplicidade de pensamentos e de valores, possibilita a convivência desde o tradicionalismo das relações familiares estratificadas, até a busca por sentido religioso, alternativas eco-políticas, ou mesmo a luta pela sobrevivência, em um mesmo contexto social.

A Filosofia Clínica se pretende uma nova abordagem terapêutica, tendo como o centro do seu interesse a pessoa no seu universo próprio.

O conceito central de singularidade busca entender cada partilhante - quem faz terapia com um Filósofo Clínico - a partir da sua história de vida, de seus valores, do que para cada um significa e é significado.

Assim podemos entender porque, na representação de mundo de uma pessoa, as regras sociais com base na condição econômica sejam determinantes, quando para outra, convivendo no mesmo espaço, não tenham a mínima importância.

Cada pessoa significa o seu mundo a partir das suas experiências, e cabe ao Filosofo Clinico, ao conhecer a experiência de vida de cada partilhante, mergulhar nessa nova linguagem, descobrindo e propondo novas possibilidades de abordagens de cada questão existencial. Desta maneira, cada terapia é realizada como única, pois quando abre mão das tipologias e do diagnóstico, o terapeuta está apto a escutar o excepcional da história de vida de cada partilhante.

Partindo da compreensão que a filosofia ė resultado de um encontro, de um diálogo entre diferentes pontos de vista, assim a Filosofia Clinica estabelece o seu fazer, a partir do encontro entre Filosofo Clinico e partilhante.

O partilhante vai conduzir o Filósofo Clinico por uma nova linguagem, por um novo mundo, considerando os elementos da sua história de vida, e partir da construção de uma relação de confiança, o Filosofo vai também conduzir seu partilhante, mas pelos caminhos ensinados por este mesmo, no sentido do seu bem-estar emocional e fisico.

Assim, se desenha mais um instrumento terapêutico que nos possibilite lidar com a impermanência deste mundo, deste mundo dentro de cada um de nós. Mais ainda, uma possibilidade de escuta dos infinitos mundos que cada um carrega, neste mundo tão veloz e complexo.

*Luz Maria
Empresária, Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS

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