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A utilidade da filosofia e a liberdade em Sartre pensada na sua utilidade diante da vida*

O texto abaixo foi feito como conteúdo para projeto de aula, no estágio que fiz durante a graduação. Estava na licenciatura nessa época e queria tratar algum tema que tivesse proximidade com o discurso dos alunos. Hoje não sei se trabalharia os temas abaixo. Enfim, revirando meus arquivos encontrei esse texto. Espero que gostem. De minha parte, garanto que foi bem divertido ler alguma coisa feita por mim há dois anos. Tão pouco tempo e tantas coisas já mudaram. Fiz questão de deixar sem cortes, correções ou acréscimos tanto no título quanto no conteúdo. Confiram!

A pergunta clássica: “para que serve a filosofia?” Não deve ser somente aplicada à filosofia. A matemática em si não serve para nada, a física igualmente; e o que se dirá das leis e ainda dos guias de macetes de videogame? A matemática ajuda na compreensão do mundo concreto, a física nas leis da natureza a fim de trabalhar nela. As leis são escritas para reger a sociedade a fim de organizar seu relacionamento. E os macetes de videogame? São meros sinais em papéis, mas se utilizados na prática, ajudam os jogadores a passar nas fases, fortalecem os personagens, etc.

A filosofia igualmente, enquanto uma série de escritos nos livros, não são mais do que um monte de teorias, mas se pensados numa relação direta com a vida, ela serve tanto para pensar questões importantes da vida, quanto para pensar as condições de possibilidade de todas as demais formas de epistemologia.

Jean-Paul Sartre foi um grande pensador do século passado. Ele elaborou uma reflexão sobre a liberdade, uma dentre tantas de suas reflexões. Segundo ele mesmo afirma em sua clássica frase “Estamos condenados a ser livres”, mas essa liberdade requer responsabilidade.

Não há nenhuma determinação que de ao ser humano uma finalidade pronta, postula o filosofo. Embora seja um filósofo ateu, podemos pensá-lo em sua ideia inclusive pensando Deus. Nem Deus, segundo o raciocínio sartreano, pode ser o inibidor de nossa liberdade. Aderir à vontade divina requer liberdade. Obedecer às leis, requer liberdade. Fazer as coisas, sendo contra ou a favor do que as pessoas pensam, requer liberdade.

Ou seja, posso ficar com qualquer pessoa, trair, matar, usar drogas, ajudar as pessoas, ter relações sexuais com várias pessoas, enfim, posso qualquer coisa que quiser. Porém, essa ação livre tem consequências. Sartre dará a essa consequência o nome de responsabilidade.

Toda ação humana praticada, tem como consequência ao menos um mínimo de efeitos. Matar levará à sociedade a prendê-lo por o acharem inapto a viver nela, ou pelo menos para pagar pela falta cometida contra ela. Ter relações sexuais indiscriminadamente, pode levar o sujeito a doenças graves, ou a gravidez indesejada. Para quem crê em Deus, não agir segundo a sua vontade acarretará numa falta, num pecado.

Optar por não fazer nada deitado numa cama até morrer, também é um ato de liberdade. E para não ficar somente nas questões negativas podemos pensar no resultado das boas ações. Adotar uma criança pode levar tanto quem adotou quanto o adotado num caminho de amor, alegrias, realizações, entre outras. Ajudar alguém faminto com alimentos, contribuirá com o bem de sua saúde, e talvez, com o fim de violências urbanas causadas por pessoas que, por exemplo, roubam para conseguir dinheiro para comer.

Aconselhar um amigo, pode levá-lo a até, em casos extremos, não se matar. Trabalhar honestamente pode levar o sujeito a melhorar o país no qual vive. Um bom exemplo dado aos filhos pode auxiliá-los na escolha por seguir pelo caminho da pacificação de uma sociedade.

Por fim, cabe pensarmos sobre a finalidade de cada uma de nossas ações, e não culparmos nada e ninguém por nossas ações cometidas. São realmente as determinações externas que qualificam minhas ações? É pelo fato de não haver emprego para todos que devo roubar? Não vou cursar uma faculdade porque sou pobre e os pobres têm pouca chance na vida? Vou me revoltar contra meus pais, por não terem me dado uma infância e uma adolescência mais farta?

Deixarei de ajudar as pessoas pelo fato de não ter encontrado ninguém que me ajudasse no momento em que mais precisava? Ficam aqui algumas questões para pensar, devendo sempre lembrar que mesmo que nossa liberdade não sendo tão vasta como a postulada por Sartre, pelo menos ainda há liberdade que permite escolhermos vários caminhos importantes para nossa vida.

*Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG

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