Pular para o conteúdo principal
No conhecer, mais é menos*



“Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.” (Atribuída a Confúcio)




Tenho pensado em escrever sobre o filósofo alemão Martin Heidegger. Pode parecer estranho que, estudando especificamente um autor, fale tão pouco sobre ele – embora suas influências não deixem de aparecer no que escrevo para o Alétheia. Pensei em diversas possibilidades para apresentá-lo: a partir de resenhas, de textos introdutórios, de temas, de problemas, etc.

Enfim, fiquei me perguntando o motivo da minha autocrítica constante em não expô-lo, haja vista que é minha leitura mais frequente. E, em meio a essas interrogações, acabei chegando à conclusão de que quanto mais conheço determinada situação, ideia, pessoa, mais sei o quanto estou longe de compreendê-las em sua totalidade, profundidade ou mais me convenço do quanto é limitado meu conhecimento.

Nesse caso, quanto mais leio Heidegger, mais fico consciente do pouco que sei dele, o oposto acaba “parecendo” verdadeiro. No Alétheia postei textos específicos sobre filósofos (Até agora: Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Erasmo de Rotterdam). E, não sendo especialista em nenhum deles, não tive tanta autocrítica em postar minhas impressões. Acabei me cobrando pouco e escrevi livremente.

Talvez faça o mesmo com as pessoas. Quanto menos as conheço, mais fácil é julgar seus atos e posturas. Ainda sobre as pessoas, já aconteceu de após conhecê-las um pouco mais, mudar concepções e julgamentos prévios que fiz a elas.

Voltando à questão dos textos, vejo que na medida em que estudo Heidegger, menos escrevo com facilidade sobre ele, pois me torno ciente do pouco conhecimento de suas obras e da possibilidade de imprecisão ao tratar de determinados conceitos. E quanto menos sei de algum filósofo, mais considero o que me dizem sobre ele com menos censo crítico, e o comento com mais liberdade.

Isso não me impede de continuar escrevendo sobre eles. Pois, busco um conhecimento, ainda que raso, da filosofia em geral. Quanto a Heidegger, talvez ainda fique por mais tempo sem escrever. Mantenho o senso crítico sobre o que conheço dele, o que me impede de postar algo por hora.

Concluindo, quanto mais conheço, menos falo a respeito. Talvez o mesmo aconteça nas relações pessoais. Se por um lado estou aberto a julgar e falar dos que vejo, no dia a dia me dou conta do quão pouco sei acerca das pessoas e quantas intenções e motivos estão escondidos.

E talvez quando veja pessoas que mesmo em busca constante de conhecimento ou esclarecimento sobre alguma coisa e que supomos que tenha muito a nos dizer, ainda fique calada, pode ser que estar ciente do que falta conhecer diante do mínimo que sabe é tão grande, que é melhor ficar calado e continuar aprofundando. Afinal, a brevidade da vida limita-nos quando se trata de abarcar epistemologicamente o micro e o macrocosmos. Concorda comigo?

*Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG

Comentários

Visitas