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SINTOMAS*

Depois de escrever “Sinais”, fui desafiado a continuar no assunto e falar agora sobre os “Sintomas” do amor. Ainda não sou especialista no assunto, mas posso dizer que me dedico, e como sou movido a desafios, vou tentar.

Pensei inicialmente em fazer uma divisão didática, semelhante ao que se faz com as patologias em medicina: sintomas leves, medianos e graves de amor. Não deu certo. Amor não é uma doença; paixão talvez seja uma espécie de confusão delirante com exaltação maníaca e por isto acumule tantos sintomas. Quando se trata de amor, este tipo de classificação não funciona. Não dá prá amar um pouquinho ou só de leve ou querer achar um rótulo para classificar. É um amor pobre aquele que se pode medir- Shakespeare. Ou se ama ou não se ama. Lembram do recado do amor? “Não aceitem menos que isto.”

Por outro lado, não podemos confundir, existem várias formas e sintomas de amor. Cada individuo tem uma história de vida, uma personalidade e uma forma de amar próprias, que vão se expressar de maneira singular. Serão seus, e somente seus, aqueles sintomas de amor. Na medida em que um parceiro espera que o outro tenha sintomas semelhantes, está reduzindo-o e tentando torná-lo parecido consigo.

O amor não se manifesta pela razão, nem pela linguagem, a qual cria conceitos comuns e homogeneíza o sentimento. Segundo Clarice Lispector, pensar que somando as compreensões está se amando é um erro. Somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. “Amo-te porque eu sou eu e tu és tu”, explicações são desnecessárias. Amor não se define, sente-se.

Quando um casal se ama, formam-se várias pontes, que serão os sintomas da ligação. “Não posso sentir igual a você, mas espero que esta ponte seja de duas mãos, cada um vindo em direção ao outro, e ambos abertos para a troca de sentimentos. Crescendo e aprendendo juntos.” No final das contas, o amor se transforma em um acesso restrito a apenas duas pessoas, um tem o login e o outro a senha. Sendo assim, qualquer sintoma que eu possa tentar descrever, já nasce desqualificado, em virtude da individualidade tanto pessoal como do casal.

Mesmo assim, vou arriscar. Amar é quando seu primeiro e último pensamento do dia são com a pessoa amada. Amar é quando você deixa de colocar vírgulas no outro e na relação, assume seu amor e ponto final. Quem ama confia, não desiste, não trai, não mente. Amar é acima de tudo, deixar de ficar pensando em teorias e definições para quando lhe perguntarem o que é o amor, responder simplesmente, sem titubear, um nome.

Se isto lhe aconteceu, não tenha dúvidas, você foi contaminado pelo amor, mas não se assuste, pois o sintoma universal é paz, muita paz. E o tratamento paliativo são beijos, abraços, colo, carinho, cafuné e compreensão, pois o amor é crônico e se possível, incurável.

*Ildo Meyer
Médico, escritor, filósofo clínico
Porto Alegre/RS

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