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Poética clandestina*











“A alquimia do verbo é um delírio”
Arthur Rimbaud
1854-1891

Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão continuada, ser iconoclastas e seus contrários, quase ao mesmo tempo, desconstroem a certeza de uma só verdade para todas as coisas.

A atitude inesperada de toda razão oferece a perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros que retorna na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão.

Um cavalheiro andante em busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra realiza uma poética das ruas. Seu caráter de profanação reivindica rituais de iniciados. Os enredos do mundo novo percorrem as dialéticas do imprevisível. Visionários incompreendidos possuem a rara aptidão de conceder sabor de vida real aos delírios de invenção.

Os apontamentos do devaneio se iniciam em um não-saber. Abertura de alma em íntima interseção com os deslizes do cotidiano. Repercussão dos achados a tecer caricaturas recém-chegadas dos percalços da vida normal. Alguns segredos escolhem o silêncio desmerecido para acenar suas versões.

Aproximação das margens com a reinvenção das águas. Essa linguagem surge como refém dos endereços existenciais por onde o autor transita. Em cada página um continente virgem insinua sua geografia ao leitor das suas possibilidades. Ao integrar invisibilidades, a alquimia de viver sem intermediários se faz hermenêutica das incompletudes. Seu querer dizer aprecia abrigar múltiplos sentidos. A investigação procura os rastros desse estranho a percorrer suas lacunas.

Aos rascunhos das entrelinhas restaria á condenação à fogueira dos versos malditos, não fora a curiosidade pesquisadora a resgatar os traços de originalidade ao seu redor. Sujeitos inconformados a rotina da intenção domesticada, se associam como cúmplices do instante criativo. Articulam o encontro do absurdo com a raridade de sua tradução. Anotações preliminares em busca dos heróis dessa poética clandestina.

*Hélio Strassburger

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