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Amor-Perfeito*



Foi em uma manhã quase já sem esperanças que ele pegou as sementes e foi ao campo semeá-las. O terreno ainda coberto pelo mato precisava ser limpo. Aos poucos foi percebendo que semear não era tão fácil como havia imaginado. A cada minuto o cansaço era sempre maior. Com o suor molhando a camisa olhou e viu que a primeira etapa estava concluída. Terreno limpo, mas ainda impossibilitado de receber aquelas sementes.

Era preciso mais… Teria que revolver aquela terra. Retirar pedras e sujeiras. Sob o sol e com o peso da enxada na terra pensou muitas vezes em desistir. Contudo, o desejo guardado no coração de ver aquelas sementes floridas era mais forte que o desânimo que insistia em chegar.

Quando o sol anunciava sua despedida lançou naquela terra, fruto do trabalho e do suor as primeiras sementes… Cada semente que ali era plantada era uma esperança a ganhar vida no solo seco de seus erros.

Durante a noite a chuva chegou de mansinho irrigando as sementes que se preparavam para morrer. No silêncio do tempo cada semente morreria para viver com mais intensidade. Dos primeiros brotos o sinal da terra sendo rompida para germinar novas possibilidades.

Todas as manhãs ele visitava o terreno que aos poucos se tornava verde. Em uma destas visitas contemplou os primeiros botões das flores que agora eram os frutos do seu suor.

O tempo passou mais rápido do que poderia acompanhar… E as sementes germinadas agora eram lindas flores prontas para serem colhidas. Com todo carinho retirou da terra algumas daquelas plantas. O colorido era tão variado quanto o número de pessoas que conhecia. A perfeição estava na diferença. A harmonia estava no contraste das cores que juntas criavam uma unidade a partir das mais variadas diferenças. No plural das cores estava o singular de cada flor.

Após cada flor ser devidamente armazenada em um único vaso estavam prontas para serem entregues ao seu destinatário.

Ao abrir a porta encontrou um vaso e ao lado um bilhete:

“Querida Luara, quando rompemos nosso noivado eu ainda estava preso em um amor possessivo. Cheguei em casa sem esperanças. E foi então que encontrei uma velha lata onde no rótulo já apagado pelo tempo ainda se podia ler: Como cultivar um amor-perfeito. Decidido a aprender a cultivar aquela flor, preparei o terreno, vivenciei o cansaço do trabalho, e aprendi a cultivar a paciência das estações. E quando as primeiras flores surgiram descobri que a perfeição do amor está no respeito as diferenças. Uma diferença que não se separa, mas ao contrário complemente. Nesta flor que hoje você recebe está o todo o tempo de um aprendizado que precisou morrer para nascer novamente. Hoje o amor que desejo viver ao seu lado é toa perfeito quanto estas flores. Aquelas sementes que hoje germinaram me ensinaram que o amor mais perfeito que existe é aquele que nasce do respeito e do cuidado. Na diferença aprendi das cores destas flores aprendi a te ver como a mais bela flor que completa o meu jardim.”

*Pe Flávio Sobreiro
Poeta, filósofo clínico
Cambuí/MG

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