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O zelador de almas*



Certa vez ao visitar um hospital espiritual de minha cidade, onde atendem crianças com câncer, pude observar um grupo de pessoas que faziam parte de uma grande equipe de profissionais da área médico-terapêutica. Percebi dentre estes profissionais, um que com grande carinho se preocupava com uma criança que tentava escrever um bilhete, mas era surda, e por isso pouco dominava, a língua portuguesa.

Este homem, a qual denominou de “zelador”, muito lhe provocava, pois se sentou próximo a sua cama e pôs-se a escrever em uma folha em branco. Em sua redação este homem, descrevia a princípio, o ambiente do hospital e sua estrutura física, passando logo a seguir, a descrever o grupo de crianças que ali se encontravam internadas para tratamento médico. Logo que terminava de escrever, o “zelador” deixava o papel em cima da mesinha de apoio da cama desta menina, que muito curiosa, logo pegava a folha de papel com o bilhete e chamava o auxiliar da ala pediátrica, para auxiliá-la a ler o que estava escrito.

E surpresa o bilhete mencionava, que de tudo o que tinha observado no ambiente, o que mais lhe chamava a atenção, era uma menina de olhar profundo que tentava escrever um bilhete. Na próxima visita, a menina logo que avistava a visita misteriosa, logo o chamou e em libras, pediu para que o auxiliar lhe ajudasse na interpretação de suas perguntas. E foram várias perguntas, desde o seu nome e o que ele pretendia com todos aqueles bilhetes.

Foi quando o “zelador”, respondeu: que era um cuidador de almas, traduzindo um Filósofo Clínico e que neste período antes do Natal, sempre se dedicava por um período de seu dia a visitar crianças e adolescentes internadas naquele hospital. Travaram muitos diálogos e logo a garota, passou a confiar em suas visitas e a relatar seu dia, como se fossem velhos amigos.

Na singularidade e beleza dessa amizade nasceu um laço amigo e mais que humano, senti a presença da verdadeira fraternidade. À menina floresceu e afirmou que ao crescer queria também ser uma cuidadora de almas. O homem que se chamava Heliberto e tinha um consultório, terminou feliz sua maratona de visitas, pois plantou no coração de Sofia, (era como a criança interna se chamava), a esperança, o aconchego, a felicidade.

Para Heliberto, era como se as rosas que plantava no coração e alma das pessoas, fossem esculpidas a puro ouro. Sabemos que no seu íntimo, a sua filosofia nobre no Cuidar, demonstra o que vai à alma com sede de cuidar, pois para ele o sentido é: Zelar também é dar a vida, zelar é amar.

Ivânia Egas
Tradutora e intérprete
de libras/Filósofa Clínica
Manaus/AM

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