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CABELO É COISA DE MULHER*



Quando o homem passa a viver ao lado de uma mulher, seu cabelo passa a ser dela.

Vai dar palpites sobre o comprimento, tipo de corte, xampu, condicionador, freqüência de lavagens e até mesmo indicar o salão. Palpites são, na verdade, ordens.

O homem, por mais atento que seja, dificilmente percebe quando a mulher muda o penteado ou corta as pontas. Não tem autoridade.

Talvez contando minha história, possa alertar outros homens a consultar uma mulher antes de mexer em seus pelos. Foi em Atlântida, num verão dos anos 80, quando era moda “parafinar” as cabeças. Os jovens ficavam com os cabelos descoloridos e amarelados, como se houvessem sido queimados de tanto sol. Quis entrar nesta onda. O farmacêutico, muito solícito, explicou que aplicando água oxigenada nos cabelos, ou mais precisamente, um produto chamado Blondor, e depois se expondo ao sol, alcançaria a malandragem.

A idéia era fazer surpresa para minha companheira. Antes de ir para a praia, fui ao banheiro, encharquei os cabelos com Blondor, peguei as cadeiras, o guarda-sol, o isopor com as latinhas de cerveja, e saímos para mais um dia de férias. Tentei ser o mais natural possível e a convidei para jogar frescobol. Enquanto isso, o sol disfarçadamente faria seu trabalho. Quando ela percebesse, meu cabelo, apenas pelo dia intenso de esportes na praia, espontaneamente estaria descolorido como o dos surfistas.

Quem mandou não consultar a especialista? Bastaram 30 minutos de sol para minha cabeça branquear como neve. Quando ela reparou já era tarde, não tinha mais volta, tinha me transformado em um albino. Tive de confessar a safadeza e pedir ajuda. Neste momento comecei a aprender que quando não consultamos a esposa e invadimos seus domínios, corremos o risco de magoá-la e mais do que isto, sermos punidos. Sofreremos, sozinhos, as conseqüências como lição pelo mau comportamento.

Ela ironicamente riu da minha ingenuidade, disse que deveria tê-la consultado e negou ajuda. Desesperado, corri para casa. Precisava me olhar no espelho e ver o tamanho do estrago. Grande mesmo, descoloriu totalmente os fios. Coloquei um boné e mais uma vez fui consultar o farmacêutico, que já não era o mesmo, mas recomendou agora uma tintura para disfarçar. A emenda foi pior que o soneto, fiquei com um cabelo de cor acaju desbotado. Sabem o que é voltar das férias e explicar um cabelo acaju? Ainda dizem que tive sorte, pois se a descoloração atingisse a raiz dos cabelos, poderia perdê-los.

Como aquilo que não nos mata, deixa mais forte, hoje tenho uma vasta cabeleira, que todo dia pela manhã me lembra que pensamentos, assim como cabelos, também acordam bagunçados. Se todo o cuidado que as pessoas têm em arrumar os cabelos fosse dado ao coração, a beleza não estaria mais na forma ou na cor, e sim nas trocas. Homens, enquanto isto não acontece, por favor, para o bem da humanidade, não discutam cabelos com mulheres.

*Ildo Meyer
Médico, escritor, palestrante, filósofo clínico
Porto Alegre/RS

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