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Pretéritos futuros*














“Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?”
Gaston Bachelard

A concepção de um esboço de como seria a tradução de ideias em atitudes, poderia dizer a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a perspectiva imaginada, como se fora uma invenção a transbordar oceanos.

Uma linguagem do futuro pretérito se oferece na palavra tentativa de superar o instante_antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página do grande álbum das suas vidas. Numa dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já deveria ter sido. Raros transitam com leveza e desenvoltura entre um lugar e outro de sua estrutura existencial.

Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é possível desconstruir as ideias conhecidas, para deixar entrever o novo vocabulário sobre antigas verdades. Nesse sentido, exercitar a flexibilidade existencial pode ajudar, deixando-se surpreender com os eventos de transgressão.

É possível desfocar a atenção e permitir outros movimentos a intencionalidade. Um ensaio onde se deixar perder pode anunciar novos instantes de reencontro. Entrementes, o ponto de vista subjetivo costuma ser impactado e fundir-se naquilo que vê, ouve, sente, vivencia, moldando personagens em roteiros de lógica retro_por vir.

Talvez ao reconsiderar sobre as miragens do instante, se possa conceber a aproximação da perspectiva vivaz de um Dionísio com a vontade justaposta de um Apolo. Aqui se vislumbra o embate da ilusão de continuidade e sua ruptura empírica por algum fato novo, capaz de apontar outros rumos ao entendimento e intuição das coisas. Na representação de cada um, a especulação sobre a simultaneidade desses diálogos interiores pode ajudar.

Nas lógicas do improvável poderíamos imaginar a realização de utopias pela palavra fora de si. Um roteiro incrível, onde a quintessência poderia ser vivenciada como uma arte de desvendar horizontes, resgatar o dialeto a margem dos consensos. No vão das idas e vindas o ser aconteceria na conjugação para reviver um tempo que ainda não chegou.

Esta aprendizagem inaudita dos rascunhos sugere termos de quase delírio. Numa estrutura fugaz, refugiada nas entrelinhas do cotidiano, é possível ser a impermanência a própria essência da vida. Uma semiose onde atuam múltiplos jogos de linguagem.

*Hélio Strassburger

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