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Resenha crítica*











Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável
Hélio Strassburger. Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012, 142 p. 

Num estilo que dança por entre “a ilusão da realidade e a realidade da ilusão” o professor e filósofo clínico Hélio Strassburger compartilha com seus leitores suas experiências, vivências e desavenças em seu caminhar como filósofo clínico. 
Como um passeio pelos recônditos espaços da mente humana o autor nos presenteia com 28 pérolas que ainda imperfeitas na medida em que se constroem na busca pelo direito de serem únicas, singulares e livres das tipologias e semelhanças que mergulham o filósofo clínico num “sobrevoo que não aterrissa”.  
O livro nos conduz pelos labirintos da relação entre o filósofo clínico e seu partilhante onde a interseção clinica ganha a forma de sentido para o partilhante a medida que seus ainda não traduzidos e interditados conteúdos ganham vida para o filósofo clínico.
O livro vai ao longo do caminho desvelando, através de seus apontamentos sobre as lógicas do improvável, as performances do filósofo clínico que como um “artesão a esculpir sua obra de arte” vê surgir ante seus olhos o ser que surgiu de si mas não é seu e que se desenovela ante o sentir admirado de um partilhante que se descobre. 
Relembrando “a mescla de sentimentos, percepções e desconstruções” que o transformaram num experiente e sensível parceiro de descobertas disposto a “brincar de esconde-esconde” com pontos cegos e descontinuidades lógicas, Hélio Strassburger guia o leitor atento às nuances dos seus pensamentos pelos meandros da interseção clínica.                                                 
  Enquanto as palavras do partilhante, transbordando como silêncio ou fala, são desvelamentos a tomar forma e fazem parte de um mundo único a se descortinar ante o filósofo, as palavras do filósofo podem ser “refúgio, remédio ou veneno”. É necessária uma escuta atenta, mas também livre de muros e correntes, que transforme a relação filósofo partilhante num encontro singular e destemido, sem medo de novas descobertas, de encontros inusitados e construções e reconstruções impossíveis. 
Nas lógicas do improvável tudo é possível, longe dos “arranjos da conformação dominante” e se existe a vontade de se reencontrar, e no desenrolar da clínica filosófica a mudança é comum a ambos, filósofo e partilhante comungam dessa mudança, pois  “assim como o leitor interfere no texto com sua leitura, o clínico não sai ileso na relação com o sujeito sob seus cuidados.”
Adentrando o mundo da loucura e o dos casos perdidos o autor navega por mares pouco navegados e por vezes com muitas tempestades, mas tanto na “interseção com as lógicas do extraordinário” como oferecendo “conforto existencial no fundo do poço”, ele se mantém sempre fiel ao “instante aprendiz” buscando sua mais pura existência, livre de arranjos e fórmulas. 
Hélio Strassburger repousa seu olhar atento sobre a interseção que, orquestrada pela reciprocidade e regida pela linguagem, é fonte fértil de enigmas que a mente já pré-formada não consegue decifrar perdendo o gosto da alquimia que transita na troca sempre singular a desvelar o outro na medida em que se desvela a si mesmo. 
É sobre esse tatear em solo abundante, mas movediço, que o livro nos orienta procurando nos despertar para os “herméticos esconderijos” que “podem se utilizar das cegueiras” produzidas pelas incômodas lembranças esquecidas que repousam preguiçosas aguardando o momento de emergir.
Pérolas Imperfeitas não é um livro para iniciantes, é uma obra ímpar e diferenciada, com um texto poético de uma estética que rastreia entre a realidade da ilusão e a ilusão da realidade e nos arremessa às associações imagéticas de uma “busca aprendiz” e singular, ali, toda ao alcance do leitor sedento de novos ares, sedento de aventurosas descobertas lá e cá onde as possibilidades alcançam e as subjetivas realidades permitem. E, acredito que esta obra, parafraseando o autor, possa nos ajudar a celebrar nossa vida e poética existencial.

*Maria Madalena Matos
Filósofa, Terapeuta Ayurveda, Estudante de Filosofia Clínica. 
Petrópolis/RJ

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