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Sobre os deslizes das margens*

           










                      

Um cotidiano inacreditável aprecia sorrir enigmas a quem possui apenas certezas. Sua fonte de surpresas faz explodir a lógica bem ajustada dos princípios de verdade. Nesse saber estrangeiro, que se insinua por aí, existe um querer de erudição e pluralidade estética.

A dialética dessas expressividades se mostra nas preferências, gosto, atitudes e alternância de papéis existenciais. Pressentir a pedra de toque pode significar uma originalidade em meio ao espírito de multidão. Como uma pátria exilada em si mesma, sua irrealização aprecia reescrever-se para além de uma vida acumulando raízes.  Ao espírito de rebanho, ser singularidade é a maior doença.  

Através da linguagem delirante se anuncia uma poética quase incompreensível. Nesse imenso território de dúvidas, contradições, um sujeito ameaça surgir. Seu deslize existencial aprecia contradizer o mundo ordinário. Em meio a esses labirintos da subjetividade que quer acontecer, uma tez se refugia, um pouco antes da luz do dia. Uma estranha fé apresenta o inadequado peregrino, um portador de manuscritos precursores.

Ao vislumbre da antítese libertadora da velha condição, o que se encontra é um meio hostil. Ao desfocar o próprio olhar, parece à deriva diante do desconhecido. Ainda assim as novas verdades vão surgindo, num instante caótico, vertigem ou crise pessoal. Quase nunca é um movimento de harmonia interna ou externa.  

Para os princípios de verdade, o que poderia ser uma relação de ensaio e libertação, se traduz em alguma fôrma de normalização. A psiquiatria clássica e a neurociência, por exemplo, ao definir o projeto pessoal como doença propõe curá-lo. Seu olhar, ingênuo ou não, oferece sustentação as tipologias e reverencia o deus farmácia, um dos donos do rebanho!

Uma conjugação da introspecção com a alteridade pode fazer reconhecível esse saber estrangeiro. Metafísica de um aqui_agora a conter múltiplas mensagens. Um devaneio discursivo aprendiz da imaginação criativa. Interseção por onde as margens deslizam para ser novas águas. 

*Hélio Strassburger

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