Em Filosofia Clínica existe um tópico chamado de Espacialidade. Nele os filósofos estudam os tópicos chamados Deslocamento Curto e Deslocamento Longo, Inversão e Recíproca de Inversão. Destes quatro, gostaria de me dedicar primeiramente a dois deles: Deslocamento Curto e Recíproca de Inversão.
Deslocamento Curto pode ser definido como uma
propensão ou característica da pessoa de estar voltada ao ambiente, ou seja, se
ela está numa sala ela pode estar atenta às cores, disposição dos móveis, sons,
enfim, ela estará conectada ao ambiente. Já a Recíproca de Inversão tem como
característica estar voltado para o outro, estar atento ao outro no seu modo de
ser. É necessário lembrar que trago aqui definições resumidas, apenas uma
introdução.
Uma pessoa que apresente
abertura para estes dois tópicos ao mesmo tempo está atenta ao ambiente onde
está inserida, assim como às pessoas que a rodeiam. Um exemplo simples: andando
pelo supermercado com o carrinho de compras, a pessoa presta atenção à
disposição de seu carrinho no corredor. Ao mesmo tempo se coloca no lugar dos
outros que também precisam passar pelo mesmo corredor, assim ela desloca seu
carrinho para próximo das prateleiras para que sobre mais espaço para
circulação. De forma concomitante, ela percebe o ambiente e ainda as pessoas, a
conexão entre estes dois aspectos poderia soar assim: “Vou colocar o carrinho
no canto porque aquela senhora quer passar”.
Porém, cada vez mais
encontramos pessoas que vivem distantes do local onde estão e voltadas apenas
para si. Fazendo uso dos dois outros conceitos, Deslocamento Longo e Inversão,
explicamos o que vem acontecendo com frequência. Deslocamento Longo é a
propensão ou característica de alguém que sai do ambiente de onde está e vai
para outros lugares ou tempos através do pensamento.
A Inversão é uma
característica de pessoas que estão voltadas para si mesmas, seus pensamentos,
emoções, dores, etc. Juntando estes dois fatores temos uma pessoa que está no
supermercado fisicamente, mas provavelmente sua mente está em outro lugar
pensando em si mesma. É necessário lembrar que apenas neste exemplo fiz a
junção obrigatória destes dois fatores, em cada caso pode ser diferente.
O segundo exemplo
ilustra bem uma pessoa que ao fazer compras, pensando nos gastos do mês, no
cachorro que ficou solto, no patrão que está bravo, enquanto anda pelo
supermercado deixa seu carrinho no meio do corredor trancando os dois lados.
Uma pessoa que fez este movimento está longe, dedicando-se às suas coisas,
desconectada do local onde está. Em sua cabeça pode estar: “O preço do arroz
subiu, no mês que vem vou ter que ver o que posso economizar se não vai faltar
dinheiro”. Enquanto isso seu carrinho atrapalha o restante das pessoas em suas
compras, quando não ela mesma tranca o restante da passagem que sobrou.
Estar atento ao
ambiente pode ser a diferença entre a vida e a morte. Muitos acidentes
acontecem porque a pessoa foi via Deslocamento Longo, para outro lugar e ficou
desatenta ao trânsito. Outros tantos acidentes acontecem porque alguém resolveu
pensar somente em si mesmo, como no caso daqueles que ultrapassam pelo
acostamento para adiantar uma viagem onde muitos outros aguardam na fila.
Não
há movimentos corretos ou incorretos, mas momentos em que eles são mais ou
menos necessários. Cada pessoa tem o seu modo de definir quando deve estar em
Inversão ou Recíproca, algumas vezes tenho que pensar em mim primeiro, mas em
outras não.
*Rosemiro A. Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC
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