Em
uma obra de essência inacabada, a pluralidade discursiva, nem sempre coerente e
recheada com algum tipo de fundamentação, exibe capítulos de uma subjetividade em
vias de acontecer.
Nessa
arquitetura de palavras, a versão dos rascunhos se inicia na multidão
improvável dos sentidos sem tradução. Por esse não-lugar se alternam pronuncias
da voz na palavra escrita. Um apurado senso de irrealidade parece tomar conta
da estrutura narrativa.
Ao
(re)nascer de cada pessoa uma nova obra se inicia. As lógicas da incompletude ampliam
as chances para descrever o infindável movimento da vida. Sua eficácia institui
novos parágrafos existenciais e se oferece como possibilidade inadiável de
reescritas.
A
autoria, em sua singularidade, esboça um cotidiano de páginas inéditas. A letra
parece querer anunciar, desvendar, transgredir cotidianos em roteiros de
inconclusão. Uma estranha alquimia ressoa no desajuste das entrelinhas. Como literatura
que se esboça aos sons do silêncio, das dúvidas sobre a expressividade dos eus
possíveis.
O
paraíso onde a linguagem se desenvolve é um imenso nada que aguarda. Seu
dicionário de páginas em branco é um chão para compor o que vier. Nessa
arquitetura de alegorias se insinua outras paragens, como a ilusão das noites a
brincar os dias.
Uma
poesia interminável se esparrama nas páginas vividas em por vir. A reflexão
especulativa tenta imaginar os dialetos impronunciáveis. O sobressalto do texto
refugiado no cotidiano se esboça numa estética quase ilegível. Seus manuscritos
apontam vestígios do ser passando ao integrar sim e não. A literalidade, embora
não diga tudo, realiza uma aproximação com a perspectiva das fontes. As
derivações ampliam versões subentendidas para visualizar utopias.
A
textura desses testemunhos se oferece ao nascer sem palavras. Em dialeto próprio
refere seus exílios num presente difuso. O percurso assim mencionado aprecia descrever,
em termos de intimidade, a paisagem desmedida pelos deslocamentos. A interseção
entre o texto e a vida acena novos refúgios ao teor discursivo. Nessa página impregnada
de originais, autores e leitores reescrevem sua história.
*Hélio Strassburger
Comentários
Postar um comentário