Pular para o conteúdo principal

Escritura sub_versão*

 








A escritura aparece como um fenômeno incapaz de aprisionamento. Seu estorvo fundamental consiste na contradição ao discurso socialmente bem ajustado.

Seu afã de ser um processo criativo recheado de novas imagens, mensagens, desvãos, aprecia desconstruir caminhos de pretensão definitiva. A partir de si mesma saltam novos estilos, idioletos, estéticas no deslize da epistemologia. Seu não-ser reinventa um mundo de possibilidades no esboço estranhamento às novas verdades.
 
O discurso alienado é ensinado desde cedo nas escolas da infância existencial. A expressividade que anunciaria o sujeito singular costuma ser diagnosticada como distúrbio, contravenção, ilegalidade. Os desvios assim descritos são tratados a golpes de farmácia, propõe reconduzir aquele ao lugar de onde tentou se emancipar.

A sub_versão dos códigos reconhecidos aprecia se iniciar na polissemia de um dia qualquer. Seu viés simbólico convida a vislumbrar e refletir sobre as tentativas de mordaça a obra escritura. Seu aspecto fora de si deixa rastros de um território virgem.

Uma trama significativa descontinua-se nas entrelinhas da lógica dos excessos. É possível ser a sua atitude mais revolucionária a recusa de um sentido único. Através dos sub-códigos de estranhamento busca a implosão da retórica das certezas. Um trânsito pelas margens denuncia as inexploradas faculdades da condição humana internada em si mesma.

O manuscrito fundador, ao acolher esse saber estrangeiro no próprio idioma, oferece alternativas para além de ruído e rumor. O teor criativo aparece no traço anúncio, chacoalha a mesmice sonolenta da definição, aponta horizontes desconhecidos. As lógicas do improviso concedem uma fresta à sintaxe marginal subverter o cárcere da lei gramatical.

Nesse sentido o texto desdobra-se na interseção com a vida. Ao distorcer o panorama hegemônico ao seu redor, se torna irreconhecível às suas anterioridades. Talvez essa proposta consiga descrever o sujeito-objeto, excessivamente maquiado pela ideologia. Seu transbordamento pessoal pode permitir a alusão desses exílios pelo deslocamento da palavra.

A poética dos desclassificados sugere a comunicação inaudita. Uma de suas buscas é a tradução das irrealidades. Seu pensar extraordinário deixa entrever os desvãos da alma primitiva. Sua obra segue inconclusa como escritura subversiva na língua dos excluídos.

*Hélio Strassburger

Comentários

Visitas