O homem, o que é?
Diariamente o homem é definido, ora é um animal dotado de razão, dali a pouco
já é um bárbaro que destrói o ambiente em que vive. Qual conceito seria o mais
adequado para definir o homem?
O foco está na palavra
“conceito”, palavra de origem grega que define todo processo de descrição,
classificação e previsão dos objetos do conhecimento. Conceituar o homem quer
dizer descrevê-lo, classificá-lo e ter certa previsão sobre ele.
Será que isso é
possível? Olhe para o lado: você convive com várias pessoas no seu dia-a-dia.
Pense na pessoa que você mais “conhece” e depois tente descrevê-la. Depois de
descrever tente classificá-la, como seria? Boa, má, otimista, pessimista,
inteligente, ignorante, quais seriam as classes que caberiam a ela, ou seria
necessário criar classes para ela?
Por fim, tente prever
os comportamentos desta pessoa. Talvez reconheça que em alguns casos até mesmo
coisas básicas não são previsíveis. Como se pode arrogar o direito de tentar
definir conceitualmente o homem?
Quem sabe seja muito
difícil definir o outro. Tente então conceituar a si mesmo, descrever-se,
classificar-se e prever seus próprios comportamentos. Há uma gama vasta de
pessoas que se espantam consigo mesmas, admiram o próprio comportamento, não
sabiam que eram capazes.
Como então, seria
possível que eu, que não consigo conceituar a mim mesmo tenho a pretensão de
conceituar todos os outros que estão ao meu redor? Um dos grandes exemplos
desta dificuldade está em conceituar Deus: o que é? Quem é? Como conceituar?
Vários filósofos tentaram conceituar Deus e tiveram sérios problemas,
perceberam que a complexidade é muito maior que a capacidade humana de
entendimento. Será que o ser humano também não é muito mais do que se tenta
conceituar? Bom, mau, pecador, santo, humilde, soberbo, são todos conceitos
atrelados a comportamentos e não a pessoas.
Não há nada de mau em
um conceito, o problema está em ligar um conceito a uma pessoa. Quando você
pega um conceito e liga-o a uma pessoa está personalizando um conceito,
tornando-o palpável. A partir deste momento aquele conceito, avarento, por
exemplo, passa a ser a própria pessoa e não seu comportamento. Por isso não é
recomendável dizer: “Fulano é avarento”.
Ao conceituar a pessoa
como avarenta ela pode ser descrita como avarenta, ser classificada como
avarenta e ser previsível como avarenta. O ser humano foi reduzido ao
comportamento de juntar dinheiro, avarento é um adjetivo, ou seja, um atributo
do substantivo.
De comportamento
pode-se levar para outras áreas, em alguns lugares pelo mundo o homem é
reduzido à sua crença, em outros reduzido a sua cor de pele. Aqui, em nossa
região o homem pode ser reduzido ao carro que tem na garagem, à casa que tem na
praia ou não tem, às roupas que veste.
Cada ser é único,
“inconceituável”, não é possível, por mais tempo e conhecimento que se tenha,
conceituar um ser humano, quem dirá “o” ser humano. Alguns filósofos, algumas
correntes filosóficas tentaram conceituar o ser humano, muitos acharam ter
conseguido completar tal tarefa. Mas, ainda hoje, dois mil e quinhentos anos
depois do início da trajetória o homem ainda não foi conceituado adequadamente,
um dia talvez.
Ao olhar para seu
filho, não o conceitue, classifique ou tente prever seu comportamento, ao
contrário, tente se aproximar, conhecer e, quem sabe um dia, você verá seu
filho. O conceito é uma sombra nebulosa que cobre o ser e quanto mais forte for
o conceito, menos se verá o ser.
*Rosemiro Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC
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