Esse papo seu tá qualquer coisa. Buscar no outro o sentido da própria existência é algo pra lá de Marrakesh*
"O amor imaturo diz: eu te amo porque preciso de ti.
O amor maduro diz: eu preciso de ti porque te amo. – Erich Fromm"
Não sabe brincar
sozinho e critica o seu “amor” por não realizá-lo.
Mania boba as pessoas
têm de pensar que sabem o que o parceiro vai querer, vai gostar, vai gozar. Que
petulância, nem ao menos prestar atenção no que o parceiro sinaliza. Nos
gemidos, nos suspiros, nas negativas. Perguntar então, tá fora de questão. Investir
um tempinho a mais, olhar, ouvir, sentir. Não, basta ler nas revistas, ver nos
filmes pornográficos, ouvir na roda de amigos, aplicar e pronto. E se no sexo é
assim, imaginem então no contexto do que chamamos de amor.
Às vezes me pego com
uma vontade de ser daquelas mães antigas, que davam chineladas e beliscões na
turminha que insistia em não entender a ordem do dia.
Vontade de sacudir as
cabecinhas, abri-las ao meio e colocar lá dentro a seguinte ordem. Vá trabalhar
em favor da sua felicidade. Vá se fazer bonita, sensata, coerente, gostosa,
dengosa, sábia, boa companhia, enfim. Acorda e busca dentro de você, no seu
manancial de qualidades, a mulher que passa dias, anos esperando que um homem,
tão infeliz quanto ela a coloque no pedestal da mulher perfeita.
Não sou muito chegada a
dramas, e acho feio comportamentos que denotam a vitimização. A impressão que
tenho é que as pessoas estão se especializando em serem assim. Dramáticas e
vitimizadas. Coisa feia e antiga. Não tenho indulgência suficiente para
entender o não cuidar-se e o culpar a outro pelas frustrações nossas de cada
dia.
Não me desce na
garganta, mesmo tendo alguma capacidade em entender o ser humano, mesmo com
todo estudo acerca dos estados lastimáveis, não consigo aceitar os injustos
desfechos que deles brotam. Tenho visto pessoas boas sofrerem os efeitos desses
dramas ensaiados. Pessoas de bom coração, presas, envolvidas, se sentindo
culpadas pela infelicidade do incapaz em se fazer feliz. Pessoas boas, reféns
de parasitas de toda ordem.
No canteiro do amor
romântico, tenho visto de tudo sendo nominado de amor. Interesse é amor. Falta
de dinheiro, é amor. Projeto de ascensão na vida, é amor. Solidão é amor.
Incapacidade de gerir a própria existência, é amor. Tesão é amor. Quantas
dessas coisas poderíamos resolver sozinhos, sem incomodar, sem usurpar, sem
ferir. Isto não é honesto e poucos se dispõe “arregaçar as mangas” pela própria
vida.
Buscar no outro o
sentido da própria existência é algo pra lá de Marrakesh. Esse papo seu, ta
qualquer coisa…
Agora, o outro lado da
moeda é mais difícil ainda de entender. Céus, como existem pessoas que precisam
de verdade, que se alimentam vorazmente, das necessidades dos outros para se
sentirem importantes.
Os dois precisam
urgente de cuidados, de esclarecimento, de discernimento, de algo que faça
entender que a base da felicidade não está lá fora, não está no outro. Que
mania horrível, nós seres humanos temos, em pensar que não vivemos bem sozinhos
e somos imprescindíveis na vida de outra pessoa.
Cegueira. É isso, só
pode ser. Nosso olho deveria funcionar tanto para fora, quanto para dentro. Que
beleza seria isto. Primeiro eu, depois o outro. Primeiro eu e depois, nós dois.
Saber o que é preciso
para ser feliz facilitaria muito o caminho para fazer alguém feliz.
Que delícia ter alguém,
além de nós.
Além de nós.
*Jussara Hadadd
Terapeuta sexual, filósofa clínica
Juiz de Fora/MG
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