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Homenagem a Cervantes*



Na estepe de Castela o homem mede a sede,
Mede o sol, desdém e força.
Na estepe de Castela
O homem mede suas malandanças,
Caminha com a rudeza a tiracolo,
Na estepe de Castela
Campos desnudos, vento e argila,
Céu côncavo, cifrado,
Determinam o espaço substantivo,
O estilo do silêncio:
E o silêncio cria o homem de Castela.

Armado por cinquenta anos de silencio
Teu herói marcha com seu escudeiro
Que não é seu duplo hostil ou lado oposto,
Antes parte integrante de si mesmo.
Não precisou marchar além da Espanha.
Ao alcance da mão temos o homem, o mundo,
Mesmo medidos num espaço angusto.
Paralelamente, no teu livro total
Se come terrestre experiência.

No espaço e na medida de Castela,
Na solidão do ar absoluto de Castela
Distingui minha medida temporal.

O homem foi criado para se conhecer circunscrito,
Seus ângulos e arestas o definem.
Castela interior que me demarcas,
Correspondes à outra Castela clássica,
Ameaçada Castela: aqui a indústria
Já inaugura sua máquina indiscreta.

Mas, se deve nutrir teus homens secos,
Que venha e permaneça a máquina indiscreta:
Frente ao excesso mecânico da técnica,
Frente a moinhos com radar, Dulcinéias de vidro,
[armaduras atômicas,
Responderá o equilíbrio de Cervantes.

*Murilo Mendes

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