"Toda a minha vida
não passa de conflitos. E se não há conflitos por aí, ora, invento um, num
piscar de olhos. Ontem eu disse que não estava mais amando? Estou mais
apaixonado hoje do que nunca.
Tudo voltou… […] Ela é
tão jovem, tão bonita e tão triste que eu seria capaz de chorar. Esse é meu
sentimento. […] Em seu mundo, todos penduram um Picasso em um local de
destaque.
Então está muito bem,
por ela eu também penduraria um Picasso em um local de destaque. Como meu
conhecimento da decadência do modernismo e a loucura cega do progressivismo
como um estado de ânimo, uma rebelião estúpida e óbvia contra ressentimentos
imaginários, medida contra meu amor por uma garota de 50 quilos?
O que importa se eu
alcancei grandes verdade sociais & espirituais na solidão do meu quarto e
em meu livro enorme e em anos de meditação cuidadosa e compreensão psicológica
- o que é minha arte? Meu conhecimento? Minha poesia? Minha ciência? -
comparado a seus pezinhos? Sim, sim, sim, acabei de notar a “ondulação de seus
dedinhos”.
O velho Dimitri, já
falei? Aqui não sou Dimitri, sou maior que Dimitri, porque sou o pai de
Dimitri, o próprio pai Karamazov. Sou eu desperdiçando fortunas e o amor dos
filhos por uma garota - e olhando com ansiedade da janela de minha miséria
esperando por ela.
Picasso… eu gostaria
mesmo de pendurar Ticiano e Grant Wood. Paris… o que quero mesmo ver é Montana.
O balé… são os filmes que passam a noite inteira na Times-Square que quero ver.
Mozart… O que quero mesmo ouvir é Allen Eager.
Mas por ela eu usaria um
cavanhaque, fingiria ser um gênio literário, faria observações proustianas, e
seria, é óbvio, sensível."
*Jack Kerouac
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