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A palavra indizível*



Esse texto busca aproximações com o teor discursivo contido em um não dizer. Trata-se de fenômenos refugiados antes da palavra compartilhável. Sua expressividade aprecia surgir na vizinhança do que se possa nomear.  
 
Sua origem marginal reside na própria estrutura onde atua como sombra. Para surgir a luz do dia se utiliza de subterfúgios como: desrazão, delírio, devaneio. As tentativas de tradução, a partir do referencial especialista, costumam desqualificar sua autoria.  

A história muito íntima de cada um, nas entrelinhas dos saltos temporais (por exemplo), é possível encontrar vestígios de sua existência. A matéria-prima da palavra indizível costuma se esconder na historicidade mal resolvida, nos apagões, deslizes, contradições. Esse universo pessoal de aspecto indizível é igual ou superior ao vocabulário reconhecido.

O estudo dessa imensa região subjetiva pressupõe:

- compreender os eventos da esteticidade
- acolher os movimentos do silenciar
- qualificar a interseção com o viés pessoal desestruturado
- investigar subentendidos
- verificar a origem dos termos inadequados
- emancipar o olhar em direção às margens da estrutura

Sua simbologia, nem sempre compreensível a primeira vista, encontra-se em permanente nascimento. Esses eventos apreciam a clandestinidade para qualificar a interseção entre dizível e indizível. Um desses indícios diz respeito aos conteúdos que surgem fora de foco e, ao se tentar ajustá-los, desaparecem.

Quando isso acontece, sua essência já é outra, como se fora uma estrutura dentro da própria estrutura. Que segredos pode conter essa fonte de matéria-prima ? Muitas vezes interditada ao próprio sujeito, essa dialética do não-dito parece querer revelar algo mais. Talvez sua existência sem voz reivindique um novo vocabulário.  

Seu caráter híbrido se mostra em não evidências. Assim, o que resta, são esboços reflexivos, analíticos, intuitivos sobre a natureza de uma esteticidade em busca da linguagem. Essas aventuras pelos labirintos da singularidade não permitem uma descrição adequada  com o dicionário conhecido.  
 
Nesse imenso território, uma fonte inesgotável de novidade tenta encontrar jeitos, associar tempos e momentos, ampliar seu campo de visão, qualificar-se nalguma semiose. Um abrigo onde acontecimentos e personagens sem rosto convivem, interagem entre si mesmos e sugerem lacunas para espreitar novas verdades.

Assim se evidencia algo mais que nasceu para não morrer. De tempos em tempos seu indizível se insinua como uma subversão hermenêutica à um leitor de raridades. Quando isso acontece, trata-se de redefinir o conceito de realidade, ajustando-o as necessidades da interseção por vir.

*Hélio Strassburger
www.casadafilosofiaclinica.com
www.casadafilosofiaclinica.blogspot.com

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